Blog I'unitá Brasil

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sábado, 26 de dezembro de 2015

O que ocorreu no Rio de Janeiro com Chico Buarque nos dá, mais uma vez, uma ótima oportunidade de dar um golpe certeiro na burrice, comandante mor dos alienados que estão cada dia mais perigosos por falta de tratamento que, por piedade, os que se propõe à busca por conhecimento podem e devem oferecer.

por Luiz Carlos Azenha
O jovem que se referiu a Chico Buarque como “um merda”, durante um bate boca no Leblon, Rio de Janeiro, certamente não havia nascido quando comecei a trabalhar como repórter-mirim no Jornal da Cidade de Bauru, no interior de São Paulo, em 1972.
Guilherme Junqueira Motta Luiz não pôde testemunhar, portanto, como foi construída a fortuna de sua família, que hoje controla a Usina Açucareira Guaíra, na Fazenda Rosário, perto de Guaíra.
Pelo jeito que ele se referiu a Chico — um mérrrrrrda –, acho que posso dizer que temos em comum o sotaque do interior paulista.
Guilherme aparentemente apagou seus perfis no 'LinkedIn' e no 'Facebook', mas antes de fazer isso deu para medir qual foi a reação dele diante da repercussão do incidente.
Primeiro ele reproduziu um meme: http://assets.viomundo.com.br/…/uploa…/2015/12/guilherme.jpg. Depois, um link segundo o qual “Governo liberou, via Lei Rouanet, mais de 800 mil para namorada de Chico Buarque”.
Da última vez que olhei o texto tinha sido compartilhado 172 mil vezes. O que dá a vocês a dimensão de quantos são os analfabetos políticos por aí.
Eles imaginam que Dilma foi pessoalmente entregar a mala de dinheiro.
É uma obsessão dos antipetistas.
Seja através do Bolsa Família ou da Lei Rouanet, eles acreditam que os governos Lula e Dilma compraram apoio.
Como se eles próprios não decidissem seus votos a partir de interesses de classe.
As quatro vitórias eleitorais, portanto, não valem nada.
O que diz mais sobre eles do que sobre os que teriam sido “comprados”.
Revela incapacidade de aceitar que alguém possa pensar — e votar — diferente.
Se não concorda comigo, foi corrompido!
O incidente no Leblon é o passo seguinte: suprimir no grito aqueles com os quais não se concorda.
Milícias digitais já temos. Se a gente conhece um pouco da História, em seguida vão atacar sedes de partidos políticos…
Já aconteceu? Então estamos a caminho dos espancamentos, que precedem a eliminação física.
A não ser que os brucutus sejam isolados politicamente. O que já está acontecendo.
Um arma para fazer isso, acredito, é a informação.
Tenho um colega repórter que acha que Chico Buarque fez sua última obra relevante nos anos 70 e, depois, foi uma decadência só.
Não sei se está apenas reproduzindo o que leu nas redes sociais, é possível que sim. É jovem. Talvez não conheça a discografia de Chico, não tenha lido os livros dele.
O certo é que o antipetismo carrega uma dose tão grande de ódio de classe que bloqueia o raciocínio, impede a análise dos fatos como eles são e transforma teorias conspiratórias em “verdades absolutas”, de tanto que são repetidas.
Tipo filho do Lula = dono da Friboi. Não, o filho do Lula não é dono da Friboi!
Conheço Chico Buarque apenas da sala-de-espera de uma dentista que frequentamos no Leblon. Sei que ele nunca foi de família pobre. Tem uma longa carreira, mais de 50 anos de sucesso.
É filho de um intelectual que escreveu um livro seminal para entender o país, Raízes do Brasil. E não mudou de posição no espectro ideológico. Ele não se “tornou” de esquerda por oportunismo, depois que Lula assumiu o poder, em 2002.
Faz sentido, portanto, que ele tivesse decidido apoiar governos petistas por causa de dinheiro obtido através da Lei Rouanet? Só um analfabeto político pode acreditar que um artista tão bem sucedido precisa disso.
O que Chico Buarque faz é dar retorno. E, como a Lei Rouanet é basicamente um instrumento de mercado, é fácil encontrar quem banca os projetos dele. Para as empresas, é chique associar sua imagem a alguém respeitado em todo o mundo, que é garantia de casa cheia.
Mas, peraí, os antipetistas não se dizem liberais, que defendem o mercado?
O problema é que são desinformados. E nem se dignam a usar o 'Google'.
Poucos sabem, por exemplo, que a Lei Rouanet não foi inventada pelo PT: é de dezembro de 1991 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8313cons.htm)
Leva a assinatura do ministro da Justiça de Fernando Collor, o “comunista” Jarbas Passarinho, coronel reformado do Exército e quadro importante da ditadura militar (minha primeira entrevista na vida, como repórter de um jornal escolar, foi com Passarinho, quando ele era ministro da Educação do governo Médici).
Sim, há muita controvérsia sobre a Lei Rouanet, mas não, ELA NÃO FOI UMA INVENÇÃO DO PT.
Sobreviveu, com ajustes aqui e ali, aos governos Itamar Franco, aos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, aos dois de Lula e ao primeiro de Dilma Rousseff. Milhares de projetos foram aprovados ao longo destes 25 anos!
Numa década foram 10 mil, envolvendo quase R$ 5 bilhões em renúncia fiscal.
E é óbvio que nenhum presidente da República saiu por aí dando dinheiro: Dilma não “deu” 800 mil reais à namorada de Chico Buarque, assim como FHC não foi pegar pessoalmente 500 mil (http://economia.estadao.com.br/…/mercados,sabesp-justifica-…) reais nos cofres da Sabesp.
Aliás, se houve um caso controverso foi este, que os antipetistas fazem de conta desconhecer: uma empresa de economia mista, cujo controle é do estado de São Paulo, governado pelo tucano Geraldo Alckmin, abateu 500 mil reais do imposto de renda e os repassou ao instituto de FHC para uma série de projetos.
Aparentemente, cumpriu as regras.
É assim que funciona a Lei Rouanet: o dinheiro vem de pessoas físicas ou jurídicas, autorizadas a abater respectivamente 6% ou 4% do imposto de renda para financiar os projetos, que passam pelo crivo de um corpo técnico do Ministério da Cultura.
O Minc não aplica critério ideológico: analisa a viabilidade do projeto. Tanto que, se você se der ao trabalho de analisar as planilhas de projetos aprovados (está tudo no site do Ministério: http://www.cultura.gov.br/), vai encontrar de tudo.
Nós mesmos, aqui neste site, já protestamos pelo fato de que R$ 5,2 milhões foram captados para bancar uma temporada do Disney On Ice, em 2011! Em outro episódio que deu o que falar, por causa do preço salgado dos ingressos, uma empresa captou R$ 22,3 milhões para temporadas do Cirque Du Soleil em 2006.
O Ministério da Cultura se defendeu (http://www.cultura.gov.br/…/nota-de-esclarecimento-so…/10895), então, dizendo que a lei valia para todos e que as regras tinham sido cumpridas pela empresa proponente.
Será que o Guilherme Motta, obcecado pelo Chico Buarque, sabe que a bilionária Rede Globo pagou 81% da minissérie Serra Pelada (R$ 6,8 milhões) com recursos captados pela Lei Rouanet? Que em 2008 a Fundação Roberto Marinho já tinha colocado R$ 6,2 milhões no Museu do Futebol, em São Paulo, usando o mesmo caminho?
A Globo fez um bom negócio com requintes de crueldade: ocupou um espaço físico em um estádio municipal, o Pacaembu, abateu a grana do imposto de renda, “controlou” a História do futebol (não há referências à corrupção no Museu do Futebol da Globo) e associou seu nome ao esporte mais popular no país. Houve protestos dos que agora se levantam contra Chico Buarque?
Veja, clicando aqui:http://novosalic.cultura.gov.br/gerar…/gerarrelatorioreuniao, quem o governo Dilma “comprou” na última reunião da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, que tem gente especializada para tomar as decisões: o Catraca Livre, do Gilberto Dimenstein! Mais um petralha…por R$ 2.230.360,00.
Como os antipetistas não entendem ironia, que fique registrado: Dimenstein é crítico do PT.
Os antipetistas amaram disseminar este link (http://novosalic.cultura.gov.br/cidadao/dados-projeto…), sobre uma peça dirigida por Jô Soares em 2014, com financiamento de quase R$ 2 milhões via Lei Rouanet.
Era a “prova” para explicar uma suposta “mudança de lado”.
Por este raciocínio, Rita Lee e Cláudia Leite também estão no bolso de Dilma. Assim como… Fernando Henrique Cardoso.
Como explicar que o Instituto FHC foi autorizado a captar mais R$ 6,2 milhões pela Lei Rouanet, em 2014, para digitalizar seu acervo? Vai ver que é o motivo para FHC não ter comparecido às manifestações pró-impeachment.
Finalmente, é preciso deixar claro que o atual ministro da Cultura do governo Dilma, Juca Ferreira, acha que a Lei Rouanet, no formato atual, já deu o que tinha de dar: http://oglobo.globo.com/…/juca-ferreira-abre-fogo-contra-le…. É uma opinião razoavelmente disseminada:
Oitenta por cento do total renunciado vai para (os estados de) Rio e São Paulo. Sessenta por cento, para duas cidades (as capitais), e são sempre os mesmos (proponentes) que recebem: os que dão retorno de imagem às empresas. Não é culpa da empresa. Se criamos um mecanismo para isso, ele pode ser usado. Mas não é parceria público-privada. É outra coisa.
É o quê?
Esse dinheiro corresponde a 80% do que o governo federal tem para financiar atividades culturais no Brasil. Levando em consideração o que eu falei, me diga: é possível desenvolver política pública assim? A Rouanet dá a aparência de parceria público-privada, mas é a empresa decidindo onde vai aplicar o dinheiro, é a privatização de recursos públicos para construir imagens de empresas, algumas delas altamente lucrativas.
Provavelmente — é impossivel assegurar — o ministro estava se referindo entre outros ao Itaú Cultural (http://oglobo.globo.com/…/juca-ferreira-abre-fogo-contra-le…), que por vários anos liderou o abatimento de impostos via Lei Rouanet (entre 2010 e 2012, R$ 81 milhões).
Não haverá manifestação de antipetistas segunda-feira diante do bilionário Banco Itaú.
Eles jamais vão admitir que a Lei Rouanet é um mecanismo de mercado, “conservador”, pelo qual as empresas abatem impostos e investem na associação de sua imagem a este ou aquele projeto/artista.
Não é o governo Dilma, como não foi o de FHC, quem comanda o jogo. São as empresas, que privilegiam o que dá retorno: Holiday On Ice inclusive.
É um jeito muito mais barato de fazer marketing do que comprar anúncios de 30 segundos que custam 600 mil reais (tabela cheia) no Jornal Nacional.
Este é um debate rico e muito interessante, com diversos pontos-de-vista. Mas os antipetistas não estão interessados nele. Vão continuar recortando a realidade que lhes interessa e usando as pílulas de informação que alimentem o ódio contra Chico Buarque, Jô Soares ou quem lhes aparecer no caminho.
Nossa mídia rasteira não ajuda. Fulanizou a Lei Rouanet. Foca na Maria Bethânia, mas esquece o Itaú Cultural.
Fornece informações descontextualizadas aos analfabetos políticos, que formam uma espécie de exército da ignorância digital. É uma batalha de informação desigual, mas que precisa ser travada.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Jornalão prefere ressaltar responsabilidade de Delcídio em vez de FHC e pega leve com os “escândalos dentro do escândalo”. Mesmo assim, a origem da corrupção na estatal começa a ser revelada

Por Helena Sthephanowitz, para a RBA
Assim que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi preso, no âmbito da operação Lava Jato, nós noticiamos aqui que seus diálogos gravados provavam que havia um “petrolão tucano” em plena operação durante o governo FHC e que o esquema foi transposto para a diretoria internacional após 2003, para onde o ex-diretor Nestor Cerveró e outros gerentes foram deslocados. Mostramos as negociações suspeitas com a Alstom e o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) de 2014 que apontou um negócio ruinoso para Petrobras em três termelétricas contratadas por Delcídio e Cerveró no governo FHC.
Pois hoje (10), onze dias depois, o jornal Folha de S. Paulo “descobre” a notícia e publica “Usinas da gestão Delcídio deram mais prejuízo que compra de Pasadena”.
Primeira coisa: por que o jornal insiste em não informar corretamente o leitor? É muito mais apropriado dizer “Usinas da gestão FHC” em vez de “gestão Delcídio”. São as chamadas “tucanices da Folha”.
Mas vamos ao mais importante: faltou ao jornal contextualizar a denúncia corretamente. O buraco é muito mais embaixo, como veremos a seguir.
O escândalo das termelétricas não é apenas ter dado prejuízo, o que pode ocorrer com qualquer negócio de risco. Escandalosos são os termos do contrato “de mãe para filho” que a Petrobras assinou com os sócios Enron, El Paso e MPX que levaram a este prejuízo anunciado.
Outro escândalo dentro do escândalo é o TCU ter sido tão bonzinho a ponto de detalhar didaticamente o quanto os contratos eram absurdos e lesivos à Petrobras, e mesmo assim isentar de culpa, não só Delcídio e Cerveró como diz a Folha, mas boa parte da diretoria da Petrobras no governo FHC envolvida naquela contratação.
Para ilustrar o que foi o contrato, imagine que Silva negocie com Smith para abrir uma padaria:
- Smith, cada um entra com metade do dinheiro, montamos a padaria e dividimos os lucros, está bem?
- Silva, se o negócio for um sucesso, ok, dividimos os lucros. Mas se vender poucos pãezinhos e der prejuízo, você me paga todo o dinheiro que investi na padaria. Quero tudo de volta em cinco anos e com taxa de juros de 12% ao ano sobre o que eu investi. Se depois de cinco anos continuar dando prejuízo você vai continuar me pagando para ser seu sócio. Tudo bem?
É de se imaginar que Silva não aceite os termos do negócio como quer Smith, já que fica claro que este último só quer pensar em lucrar e pouco se importaria com eventuais prejuízos de Silva.
Agora troque o Silva pela Petrobras, o Smith pela Enron (ou a El Paso, ou a MPX) e a padaria pelas termelétricas. Só que em vez de mandar as gigantes norte-americanas “se catarem”, a Petrobras de FHC disse “negócio fechado”.
É aí que mora o escândalo.
Que fica maior com o relatório do TCU, que descreve com todas as letras o absurdo dos contratos. Abre aspas:
Mesmo com toda a volatilidade do preço da energia no mercado ‘spot’, ainda que se considerasse aceitável que a Petrobras assumisse sozinha todo esse risco, não parece razoável aceitar que ela amortizasse todo o investimento privado em 5 (cinco) anos, com a remuneração deste capital a 12 % ao ano.
Ora, na medida em que o investimento feito pelo investidor privado era ressarcido pela Petrobras, independentemente do sucesso ou não do negócio, como dizer que este investidor assumiu o risco do investimento do negócio?
(…)
Ressalto que parte da construção das usinas foi financiada pelo BNDES, por meio do Programa de Apoio Financeiro a Investimentos Prioritário no Setor Elétrico, o qual dispunha dentre outras vantagens, taxas de juros reduzidas em relação aos financiamentos convencionais. Ou seja, os investidores privados receberam empréstimos a juros subsidiados pelo Governo Federal e recebeu da Petrobras a remuneração deste capital a um juro de 12 %, um juro de mercado sem assumir qualquer risco já que a Petrobras avocou para si todos os riscos do empreendimento, tendo despendido R$ 2,28 bilhões a título de contribuição de contingência (Peça 37, p.7).
Ora, se a Petrobras poderia obter recursos junto ao BNDES a taxas inferiores, não se mostra razoável que ela tenha se comprometido a garantir remuneração do capital a 12% ao ano aos investidores privados, a título de alocação de capacidade. Assim, se é verdade o alegado nas razões de justificativa dos responsáveis, de que a formação dos consócios tenha levado à construção das termelétricas a custos mais baixos, esse ganho ficou exclusivamente para os investidores privados, que dessa forma chegaram ao cenário ideal para qualquer investidor: maior ganho, nenhum risco.
E não bastasse todo esse desequilíbrio na distribuição dos riscos, mesmo a Petrobras ressarcindo todo o capital investido pelos investidores privados em 5 (cinco) anos, a Petrobras, ao fazê-lo, não adquiria a propriedade das respectivas usinas merchant. A Petrobras teve que comprá-las em 2005 e 2006, de modo a interromper o pagamento das contribuições de contingências e os prejuízos decorrentes do seu pagamento.
(…)
O relatório alertou também que a amortização do capital dos investidores foi acelerada, na medida em que ocorreu em um prazo de sessenta meses, ao passo que, em outras usinas, como EPE – Cuiabá e Termonorte II, o período de amortização de capital fixo investido teria sido de 240 meses (TC 005.251/2007-0, principal, fl. 83, peça 3 do TC apenso).
Mesmo assim, o TCU “passou a mão na cabeça” dos responsáveis pelo contrato, aliviando todos de culpa:
Naquele momento da assinatura dos contratos, portanto, a indicação era de que os preços de energia no mercado ‘spot’ se manteriam elevados, não sendo razoável exigir que os responsáveis pudessem prever a mudança ocorrida.
Assim sendo, é razoável admitir que as circunstâncias políticas e as condições de mercado à época permitiram que a Petrobras assumisse riscos de forma desigual quando comparado com os investidores privados.
Dessa forma, ainda que tenha faltado prudência por parte dos administradores da Petrobras, os gestores devem ser eximidos de responsabilidade por não ser razoável exigir-lhes que, com as circunstâncias favoráveis de mercado, descumprissem os compromissos políticos e sociais que haviam assumido e desistissem da oportunidade de negócio que se apresentava. Fica demonstrada a inexigibilidade de conduta diversa por parte dos gestores da Petrobras, excluindo sua a culpabilidade.
Nota-se que o TCU torna-se parte do escândalo ao dizer que “não achou razoável exigir que os responsáveis pudessem prever a mudança ocorrida”. Pois o sócio privado previu com muita clareza a possibilidade de não haver lucro e o que aconteceria. Escreveu no contrato com todas as letras para os gestores da Petrobras lerem e assinarem. E isso ocorreu em três contratos com três sócios diferentes – Enron, El Paso e MPX.
Errar uma vez já seria absurdo. Errar três vezes é praticamente impossível em uma empresa do porte da Petrobras em um negócio bilionário destes, caracterizando decisão deliberada para favorecer o sócio privado às custas do prejuízo para a estatal e o povo brasileiro.
Outra aberração inaceitável como justificativa foi atribuir o mau negócio a “circunstâncias políticas”. Cerveró, Delcídio e os outros responsáveis disseram que cumpriam a política determinada pelo Ministério das Minas Energia para termelétricas.
De novo, cumprir objetivos nunca é justificativa para assinar contrato com cláusulas flagrantemente lesivas, pois pode-se simplesmente fazer a mesma coisa com contratos justos para os dois lados. Mas tem uma “circunstância política” interessante neste episódio.
Aqui vale a lembrança: o ex-senador do PFL-DEM José Jorge foi Ministro das Minas e Energia naquele tempo. E quando este processo de tomada de contas tramitou no TCU, ele era um dos conselheiros do órgão.
Junte os caquinhos.

Post divulgado no Facebook do Movimento Brasil Livre (MBL) pede dinheiro para manifestações pró-impeachment, só que as contribuições são direcionadas para a conta pessoal de Kim Kataguiri, um dos líderes do grupo. A falta de transparência em relação aos recursos incomodou os internautas. “Ué, o MBL não tem CNPJ?”, questionou um deles


Senado se prepara simplesmente para modificar o conceito de trabalho análogo à escravidão.




Por Marcelo Auler Repórter


Até parece jogo de carta marcada. Enquanto a Câmara dos Deputados distrai a todos com os golpes baixos que seu presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e sua trupe aprontam, o Senado se prepara simplesmente para modificar o conceito de trabalho análogo à escravidão. Quase na surdina.
Esbarrou, porém, nos olhos atentos de três ativistas do combate deste tipo de exploração, cada qual no seu campo: o padre e professor universitário Ricardo Rezende; o jornalista Leonardo Sakamoto; e o ator Wagner Moura.
Esta em pauta no Senado, em caráter de urgência, a votação do projeto de lei que regulamenta a emenda constitucional 81/2014 (antiga PEC do Trabalho Escravo).
A lei, como lembra Sakamoto em seu blog – “Trabalho escravo: Congresso prepara mais um golpe contra trabalhadores” –  tem até aspecto interessante, como o confisco de propriedades em que esse crime (trabalho análogo à escravidão) for encontrado.

A questão, porém, é outra. Ao mesmo tempo em que incorpora uma antiga reivindicação dos movimentos em defesa dos trabalhadores – notadamente no campo, aonde a prática do trabalho análogo à escravidão é mais constante –  ela, porém, “retira a parte que protege a dignidade do trabalhador – o que vai facilitar a vida de empregadores flagrados com essa forma de exploração do ser humano”, lembra Sakamoto.
Pelo artigo 149, são elementos que determinam trabalho análogo ao de escravo: condições degradantes de trabalho (incompatíveis com a dignidade humana, caracterizadas pela violação de direitos fundamentais o que  coloca em risco a saúde e a vida do trabalhador); jornada exaustiva (em que o trabalhador é submetido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho que acarreta a danos à sua saúde ou risco de vida); trabalho forçado (manter a pessoa no serviço através de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas); e servidão por dívida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um débito e prendê-lo a ele).
O projeto quer retirar os dois primeiros elementos da caracterização de trabalho escravo, as condições degradantes e a jornada exaustiva. Em mensagem encaminhada ontem (9) ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Wagner Moura, que também atua como Embaixador da Boa Vontade junto à Organização Internacional do Trabalho (OIT), advertiu: “Trata-se de uma manobra sorrateira da bancada ruralista”.


Foto: 




quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Bia Lula Desabafa Sobre Assédio

por Bia Lula


Venho publicamente relatar o que vem acontecendo comigo nos últimos dias, e de tão indignada, resolvi compartilhar com vocês que venho sendo incomodada, da maneira inconveniente e porque não dizer, assediada pela repórter Fernanda Krakovics, do Jornal O Globo, que diz que irá publicar uma matéria a meu respeito, eu querendo ou não. 


Quero deixar claro que o Grupo Globo não me pauta, e que não vai fazer comigo o que tem feito com minha mãe, desde as eleições de 89, e com os meus tios, diariamente difamados e caluniados pela imprensa golpista.

Sem contar o que fazem com o maior amor da minha vida e o melhor Presidente que este País já teve, meu avô, Luiz Inácio Lula da Silva. Sim, meu nome é Bia Lula e tenho SIM, o maior orgulho de toda sua trajetória de vida.

Meu avô, minha liderança, tirou milhões de brasileiros do mapa da FOME e da MISÉRIA, e milita em nível mundial na erradicação da FOME e da POBREZA.

Mas ok, na verdade, o que incomoda essa gente, é o fato dele ser um retirante nordestino, que sobreviveu à fome, uma liderança que surgiu do chão da fábrica, um verdadeiro BRASILEIRO.

Não me venham com este procedimento baixo e truculento.

Não devo satisfações da minha vida e não devo nada a ninguém, quem deve é o Grupo Globo, que nada mais é que uma concessão pública que subestima e tenta manipular a inteligência do nosso povo

Sei me defender, esta prática mesquinha de terrorismo midiático não me mete medo, se querem conhecer minha militância, ai vai.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

SOBRE EDUARDO CUNHA E A CHANTAGEM DO IMPEACHMENT

por JeanWyllys

O senhor Eduardo Cosentino da Cunha acaba de entrar para a história política brasileira como uma das personalidades mais carecedoras de respeito que já pisaram o nosso parlamento. Não há muito a se esperar de uma personalidade que não hesita em mentir, chantagear, ameaçar, ocultar, usar o cargo em benefício próprio e tomar o Executivo, o Legislativo e a República toda de reféns para salvar sua própria pele. Mas a chantagem barata de Cunha agora há pouco, acolhendo o pedido de impeachment da Presidenta no momento em que percebeu a real possibilidade da cassação de seu mandato, vai além do que jamais suporia Maquiavel.
Estou no Panamá, aguardando a conexão do meu voo de retorno ao Brasil, mas não queria deixar de me pronunciar sobre a situação de extrema gravidade institucional em que o réu da Justiça que preside a Câmara dos Deputados, formalmente acusado pelos crimes de corrupção, evasão fiscal e lavagem de dinheiro, tem colocado o país. Esse sujeito menor, eleito com a força da grana e das mais obscuras transações, esse representante dos "podres poderes" que ao longo do último ano impôs ao Congresso uma agenda de atraso civilizatório, perda de direitos, conservadorismo, ódio e preconceito, está agora colocando o país à beira do abismo institucional apenas por necessidade própria.
Estou extremamente indignado, como todo brasileiro e toda brasileira deveriam estar nesse momento, independentemente de sua opinião sobre o governo da presidenta Dilma Rousseff. Sim, independentemente disso.
Eu faço parte da oposição de esquerda ao governo Dilma e, embora tenha votado nela no segundo turno por considerar que o outro candidato era ainda pior, avalio o governo dela como a maioria do povo: é um governo ruim, cada vez mais afastado das expectativas e necessidades do povo que o elegeu. Mas não é isso que está em discussão. O instituto do impeachment não foi incluído na Constituição para destituir governos ruins. Quem avalia os governos é o povo, a cada quatro anos, quando vota, e ao longo de cada mandato constitucional, manifestando-se nas ruas se achar necessário. A democracia, esse sistema imperfeito, mas melhor do que todos os outros, supõe o respeito pelo mandato popular, gostemos ou não do resultado das urnas. O impeachment é um remédio drástico, só aplicável em última instância, quando existe crime de responsabilidade. E não é o caso.
A presidenta Dilma não está sendo acusada de qualquer crime e não há motivos constitucionais para sua remoção, gostemos ou não dela ou do seu governo. E aqueles que, como eu, não gostamos teremos a chance de oferecer ao país uma alternativa nas eleições de 2018. É assim que a democracia funciona.
O que Eduardo Cunha fez no dia de hoje chama-se chantagem. Diferentemente da Presidenta, ele está sim acusado de gravíssimos crimes. Não por mim, mas pela Procuradoria-Geral da República. Um bandido com contas na Suíça e um longo histórico de envolvimento em escândalos de corrupção desde que chegou ao poder junto a PC Farias e Collor de Melo está, há meses, valendo-se da ameaça do impeachment da Presidenta para negociar e chantagear ao mesmo tempo petistas e tucanos, usando o impeachment como moeda de troca com uns e outros para se salvar da perda do próprio mandato no Conselho de Ética da Câmara, no "leilão" mais vergonhoso da história da República.
Não contem comigo e nem com o PSOL para essa farsa!
Continuaremos fazendo oposição republicana e responsável ao governo Dilma, contra os ajustes e as concessões ao poder econômico e às corporações, mas jamais seremos cúmplices de um golpe institucional. E continuaremos denunciando a atitude do PT e do PSDB e seus respectivos aliados, que escolheram negociar com o Diabo em vez de enfrentá-lo e, por isso, também são solidariamente responsáveis por essa vergonhosa situação.
Fora, Cunha!



terça-feira, 27 de outubro de 2015

Como responder a uma fascista (ou um pedido de desculpas a Eduardo Suplicy e a Fernando Haddad)


por Jean Wyllys





Amigos e seguidores me questionaram privada ou publicamente se Celene Carvalho - a fascista que insultou, aos gritos, Eduardo Suplicy e o prefeito Fernando Haddad na Livraria Cultura, em São Paulo, há alguns dias, e cujo vídeo da agressão viralizou na internet - é mesmo filiada do PSOL. Como, no momento do questionamento, eu não sabia a resposta (afinal de contas, o PSOL tem representação em quase todo o Brasil e eu não conheço nem um centésimo dos seus filiados), eu me calei e fui pesquisar.

Para minha surpresa e infelizmente, Celene era, sim, filiada ao PSOL de São Lourenço, Minas Gerais. Ela inclusive foi candidata pelo partido numa das eleições passadas. A representação do PSOL em Minas informou que já havia pedido o afastamento da fascista. Porém, como o pedido de afastamento não fora devidamente encaminhado à Comissão de Ética da direção nacional do partido, Celene continuava constando da lista de filiados do PSOL. Mas, com esse episódio, a direção nacional do partido vai acelerar a expulsão da fascista.

Apesar de criterioso e rigoroso em seu processo de filiação, o PSOL não está imune a infiltrações de pessoas que nada têm a ver com seu programa nem ideologia. Algumas dessas infiltrações se devem à disputa interna ao partido entre suas diferentes tendências; outras se devem a tentativas deliberadas, por parte de outras legendas, de desqualificar um partido cada dia mais respeitado pela opinião pública.

Creio que se Celene tenha se infiltrado no PSOL devido às disputas internas. Tendo em mente apenas a informação de que o partido nascera de uma dissidência do PT, a fascista deve ter achado que o PSOL seria terreno fértil para seu antipetismo doentio e certamente contou com o apoio de algum dirigente que pretendia usá-la nas disputas internas.

Celene nada tem a ver com o PSOL nem com suas figuras públicas. Ela está mais bem próxima do demo-tucanato (ou seja, das ideias antipetistas comuns ao PSDB e ao DEM) e dos fascistas com colunas na "grande mídia", tanto que, em seu perfil no Facebook, pululam selfies com Aécio Neves, Reinaldo Azevedo et caterva, sem falar de sua idolatria ao juiz Sérgio Moro.

O PSOL que meus companheiros de bancada e eu representamos está tão longe de Celene que os grupelhos de analfabetos políticos pró-impechment de Dilma que atuam na internet em sintonia com parlamentares do DEM e do PSDB (grupelhos que a fascista tanto admira e dos quais compartilha postagens em seu perfil na rede social) vivem nos acusando de "linha auxiliar do PT" e duvidando da oposição que fazemos ao governo da presidenta Dilma.

Celene cabe perfeitamente naquela já clássica fotografia em que parlamentares do PSDB, DEM e PPS e outros do baixíssimo clero da Câmara Federal e "líderes" dos grupelhos de analfabetos políticos pró-impechment aparecem sorridentes e de dedo em riste ao lado do presidente da casa, Eduardo Cunha, denunciado formalmente - e com robustas provas - pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro (inclusive em igreja evangélica) e evasão ilegal de divisas. Celene comunga da mesma indignação seletiva dessa gentalha que quer o impechment de uma presidenta da República sobre qual não pesa qualquer denúncia de crime algum, mas apoia um presidente da Câmara Federal que todos sabemos ser, devido investigações dos ministérios públicos suíço e brasileiro, um criminoso contumaz e cínico.

Aliás, graças a esse apoio, os grupelhos de analfabetos políticos ganharam, de Eduardo Cunha, o direito de violarem, com a complacência e a proteção da Polícia Legislativa, o Ato da Mesa, em vigor desde 2001, que proíbe acampamentos e palanques em frente ao Congresso Nacional. O patrimônio histórico e cultural se encontra manchado pelo verde-oliva das barracas de camping caras erguidas sobre o gramado pelos grupelhos pró-impechment (ao mesmo tempo, a Polícia Legislativa proibiu que sem-teto, indígenas e movimentos que pedem o afastamento de Cunha ali se instalassem!). A imprensa não disse o "a" a respeito dessa ilegalidade! (Imaginem o que diriam se fossem as barracas do MST!)

Antes de insultar Suplicy e Haddad, Celene fizera parte de um grupo que tentou constranger Dilma e Lula durante uma festa de casamento para qual foram convidados. Sua postura, entretanto, não é isolada nem está fora do contexto de crise política que vivemos. Ela é parte do "cotidiano autoritário" que se engendrou no Brasil durante e após as eleições de 2014 em função da linha de atuação adotada pelo PSDB e que é analisado pela filósofa Marcia Tiburi em seu novo e necessário livro "Como conversar com um fascista - reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro" (Editora Record), do qual tive a honra de assinar o prefácio.

Celene é produto da desonestidade intelectual e da má fé de editores, colunistas e articulistas que atuam na chamada "grande mídia" e que deformam o imaginário e o caráter de sua audiência com coberturas parciais, meias-verdades, boatos alçados à condição de fatos, declarações selecionadas e mentiras deliberadas. Não preciso citar seus nomes. Celene é fruto da canalhice e da demagogia da oposição de direita na Câmara Federal e no Senado, blindada por editores, articulistas e colunistas da "grande mídia".

O episódio de Celene dá sequência ao macartismo tupiniquim (muito em vigor durante a ditadura militar!) e que já vitimou Guido Mantega, Alexandre Padilha, José Eduardo Cardoso, Stédile, Jô Soares, Marieta Severo, o rapper Flávio Renegado, os médicos cubanos, os imigrantes haitianos e o casal de intelectual de Perdizes. O mesmo macartismo que, ontem, decidiu, numa expressão sem precedentes da burrice motivada ou da má fé deliberada, atacar o último ENEM por conter questões sobre a persistente violência contra a mulher e sobre o racismo na sociedade brasileira.

Em seu maravilhoso "Como conversar com um facista", Marcia Tiburi chama atenção para o papel da burrice - aquilo que Hannah Arendt caracteriza como "vazio do pensamento" - na banalização do mal a que assistimos ora chocados ora silentes. O fascista não pensa nem reflete criticamente: apenas repete afirmações que estão de acordo com os preconceitos que carrega em si há tempos e dos quais não conseguiu se livrar. "O fascismo é a máscara mortuária do conhecimento", explica a filósofa em seu livro.

Os que se calam hoje diante da escalada do fascismo no Brasil, por conveniência, preguiça ou egoísmo, não têm ideia do que lhes espera no futuro se esse mal não for devidamente contido. O fascismo e o nazismo aniquilaram milhões de seres humanos com requintes de crueldade pelo simples fato de estes serem judeus, homossexuais, ciganos e comunistas. Não se esqueçam disso!

Peço muitas desculpas a Suplicy e a Haddad, homens públicos que gozam do meu respeito e da minha admiração. O PSOL repudia veementemente não só as agressões de Celene como também o antipetismo odioso expresso pela "grande mídia", pelos partidos de oposição de direita e pelas hostes fascistas na internet (sempre juntos e misturados!). Só a parte obtusa da militância petista nas redes sociais - obtusa e adepta da má fé como sua contraparte tucana - pode achar e dizer que o PSOL endossaria essa barbárie. Por outro lado, o demo-tucanato pode me chamar à vontade de "linha auxiliar do PT" se isso significar se colocar contra a estupidez e a desonestidade intelectual dos que atacam a agenda e as figuras públicas petistas comprometidas com a justiça social!

Jamais sejamos complacentes com fascistas. Reajamos sempre às suas ações. Mas, num gesto humanitário que nos cabe, apiedemo-nos dessas almas pequenas; elas foram envenenadas por canalhas que, ao contrário de nós, estão pouco interessados num mundo mais justo e humano.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A Desonestidade Costumeira Da Imprensa Brasileira

por Afonso Hipólito



Para divulgar dados de pesquisa do IBOPE sobre intenções de voto para o pleito de 2018 (?) O Globo fez uma das coisas que mais gosta de fazer: praticar desonestidade intelectual.

Sabendo que, infelizmente, boa parte da população não lê e se deixa levar pela manchete, O Globo "capricha".

De acordo com a pesquisa divulgada, o ex-Presidente Lula tem, hoje (?), 23% das intenções de voto, Aécio Neves aparece com 15%, seguido por Marina com 11%, Serra 8%, Alckmin 7% e Ciro 4%. Ou seja, se as eleições fossem hoje, Lula sairia na frente.

A pesquisa diz, ainda, que Lula é o mais conhecido entre os políticos e que apenas 2% o desconhecem, Ciro é o mais desconhecido, 24%, seguido de Alckmin, com 19%, Serra com 11%, Marina 10% e Aécio 9%. 

A pesquisa diz também que em 2014 33% dos entrevistados disseram que não votariam no ex-Presidente e agora este número subiu para 55%, apesar do fato de que quando a pesquisa foi feita em 2014 Lula não era candidato e agora também não (até porque a eleição é em 2018.

Apesar dos dados desta pesquisa patética, que só serve para tumultuar, mostrarem que, apesar da alienação praticada diariamente por veículos para-jornalísticos fomentando ainda mais a crise política, o ex-Presidente resiste e se fosse candidato estaria na frente dos adversários escolhidos pelos responsáveis pela pesquisa, O Globo divulgou a pesquisa com o seguinte título: 

Ibope: 55% não votariam em Lula nas eleições de 2018

Rejeição a petista era de 33% em 2014; 23% declararam que votariam no ex-presidente








Foto: Ricardo Stuckert

    

Uma justiça para a família Vaccari. Outra para a família Cunha

Por que Sérgio Moro pediu a prisão da cunhada do petista com base em uma falsa imagem e mantém livre a esposa de Cunha, titular de contas ilegais na Suíça?


por Najla Passos
Coordenadora financeira do Centro Sindical das Américas, Marice Corrêa de Lima estava no Panamá, participando de um congresso da entidade, no dia 15 de abril deste ano, quando tomou ciência de que sua prisão temporária havia sido decretada pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato. Foi quando ela soube também que seu cunhado, o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, havia sido preso e sua irmã e esposa dele, Giselda de Lima, cumprira mandado de condução coercitiva. 
 
Dada como foragida, Marice só soube das provas que pesavam contra ela dois dias depois, quando retornou ao país e se apresentou espontaneamente à Polícia Federal: o Ministério Público Federal (MPF) a identificou como a mulher que aparecia em imagens cedidas pelo Banco Itaú efetuando depósitos na conta de sua irmã, Giselda, em duas agências da capital paulista. Foi o suficiente para o juiz Sérgio Moro acatar a tese de que ela estaria ajudando Vaccari a lavar o dinheiro oriundo da corrupção.  
 
No dia 20, o MPF chegou a pedir a conversão da sua prisão temporária em preventiva, para que ela ficasse detida por tempo indeterminado. "Tudo indica que Giselda [mulher de Vaccari] recebe uma espécie de 'mesada' de fonte ilícita paga pela investigada Marice, sendo que os pagamentos continuam sendo feitos até março de 2015. Nesse contexto, a prisão preventiva de Marice é imprescindível para a garantia da ordem pública e econômica, pois está provado que há risco concreto de reiteração delitiva", sustentaram os procuradores.
 
Marice negava. Mas o juiz Sérgio Moro estendeu a prisão temporária dela, que vencia no dia 20, por mais cinco dias. Ele teve que voltar atrás no dia 23, liberar a investigada e reconhecer o erro primário: uma perícia feita pela PF comprovou que não era Marice que aparecia nas imagens, mas a própria Giselda. A frágil prova jurídica apresentada pelo MPF, acatada pelo juiz e amplamente divulgada pela imprensa caíra por terra. “Elas são muito parecidas”, desculparam-se procuradores e juiz. 
 
Dois pesos e uma medida
 
Situação bem diversa vive a família do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também acusado de envolvimento no mesmo esquema da Petrobrás, investigado pela mesma Operação Lava Jato. No dia 20 de agosto, a Procuradoria Geral da República (PGR) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de abertura de investigação contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de receber pelo menos US$ 5 milhões em propinas de uma empresa contratada pela estatal. 
 
Na denúncia, a PGR pede que ele seja condenado por dois crimes de corrupção passiva e 60 operações de lavagem de dinheiro. Isso mesmo: 60 operações de lavagem de dinheiro.  E não se tratam de depósitos fracionados em agências bancárias do Itaú, aqui mesmo no Brasil, mas de um esquema sofisticado que envolve contas em paraísos fiscais, empresas offshores e até a utilização de doações à igreja Assembleia de Deus de Madureira, no Rio de Janeiro, frequentada por Cunha. 
 
Quatro das contas utilizadas por Cunha e seus familiares estão registradas no banco suíço Julius Baer. Três delas em nome de empresas offshores ligadas diretamente ao presidente da Câmara. Uma quarta aparece com o nome fantasia KOEK, mas um dossiê encaminhado pelo Ministério Público Suíço às autoridades brasileiras comprova que sua titular é a ex-apresentadora da TV Globo, Cláudia Cruz, esposa de Cunha. Uma das filhas do casal é registrada como dependente. Conforme o MP suíço, as quatro contas registraram entrada de cerca de R$ 31,2 milhões e saídas de R$ 15,8 milhões, entre 2007 e 2015, em valores corrigidos.
 
A conta movimentada por Cláudia vem sendo usada para sustentar, com o dinheiro da corrupção, alguns luxos pouco comuns à imensa maioria dos brasileiros. De janeiro de 2013 a abril de 2015, ela cobriu US$ 525 mil em débitos de um cartão de crédito. Outros US$ 316,5 mil foram destinados ao pagamento de um segundo cartão, em quatro anos. Uma famosa academia de tênis da Flórida, a IMG Academies, recebeu US$ 59,7 mil do montante. A família destinou US$ 8.400 à escola inglesa Malvern College e transferiu US$ 119,7 mil para a Fundacion Esade, da Espanha.  
 
O processo contra Cunha foi parar no STF porque ele tem direito a foro privilegiado, o que não é o caso de Cláudia. As investigações contra ela, se é que já foram transformadas em denúncia, continuam na justiça comum, ou seja, nas mãos de Sérgio Moro, aquele rápido o suficiente para mandar prender a cunhada de Vaccari antes de saber se era ela, de fato, nas imagens que sustentavam a decisão. 
 
O curioso é que mesmo com todas as provas enviadas ao Brasil pelas autoridades da Suíça, não se tem notícia de que ele sequer a tenha convocado para depor. Antes da PGR receber o dossiê do MP suíço sobre o casal, nenhuma acusação contra ela foi vazada para a imprensa. Será que o juiz que decretou a prisão da cunhada de Vaccari no afogadilho, com base em imagens que nem eram delas, não quer se arriscar a incomodar a mulher do poderoso chefe da Câmara?
 
Debate jurídico
 
Os erros, atropelos e excessos cometidos no âmbito da Operação Lava Jato têm suscitado um amplo debate jurídico no país. Há quem aplauda e quem condene o estilo do juiz Sérgio Moro de conduzir o processo. O que ninguém discorda é que - para usar um termo que se tornou bastante usual no mundo jurídico desde o chamado mensalão – ele esteja “inovando” em matéria legal. E o caráter seletivo de suas ações é, sem dúvida alguma, parte fundamental desta “inovação”. 
 
Em palestra na capital norte-americana, no último dia 19, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, declarou que a Lava Jato é uma “revolução” no país. “As investigações têm sido muito bem conduzidas. Nós temos algumas sentenças, sentenças muito duras, alguns dos altos executivos do Brasil já foram condenados a passar 15 ou 20 anos na cadeia. É realmente algo novo", disse ele. 
 
Mas há também quem conteste o estilo Moro. No dia 10 de outubro, em seminário promovido pela OAB, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Sebastião Reis, criticou duramente a banalização de uma das principais “inovações” introduzidas pela operação: a utilização da delação premiada como jamais visto antes no país. “A delação está sendo banalizada. Tem mais colaborador do que réus na ‘lava jato’”, afirmou.
 
Ele também destacou que o instrumento gera seletividade nas condenações. “O Estado está abrindo mão do direito de punir em troca da condenação de três, quatro pessoas”, ressaltou. E condenou o vazamento seletivo das delações para a imprensa que, segundo ele, prejudica a defesa dos citados e pressiona os juízes que atuam no caso a condenarem os acusados.
 
Uma pesquisa realizada pela revista Consultor Jurídico e divulgada no último dia 15 mostrou que todas as delações firmadas no âmbito da Lava Jato violam a Constituição e as leis penais. A revista analisou 23 acordos homologados por Moro e descobriu que eles preveem, por exemplo, que nem mesmo os advogados de defesa tenham acesso às transcrições dos depoimentos do delator, que ficam restritas ao Ministério Público Federal e ao juiz, o que viola o principio do contraditório e o direito à ampla defesa. 
 
O estudo também mostra que os acordos impedem os delatores contestarem suas sentenças judicialmente, o que viola o direito de ação (artigo 5º, XXXV), que assegura que nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser excluída da apreciação do Judiciário. E ainda que, tal como o Ato Institucional nº 5, editado durante a ditadura militar, os acordos da Lava Jato vedam completamente aos réus a possibilidade de impetração de habeas corpus, entre outras críticas apontadas.
 
Operadores do direito têm criticado também a mão pesada e seletiva do juiz Sérgio Moro para determinar prisões, ainda que de forma diferente para os diferentes envolvidos,  no país que vive o dilema de possuir a quarta maior população carcerária do mundo e desrespeita com frequência as garantias individuais previstas pela própria Constituição. Não por acaso, por conta da sua atuação na Lava Jato, Moro virou o garoto-propaganda de um projeto de lei apresentado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) ao Senado que prevê a prisão de réus condenados em 2ª instância antes mesmo da conclusão do devido processo legal. 
 
Em audiência pública realizada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para debater a proposta, ele foi rechaçado por seus pares, que defenderam é possível avançar no combate à corrupção sem reduzir as garantias individuais previstas na Constituição. No debate, o juiz Rubens Casara, especialista em direito processual penal, que citou diretamente a Lava Jato ao operar suas críticas ao projeto defendido por Moro, lembrou que tanto no fascismo clássico italiano, quanto no nazismo alemão e no stalinismo soviético, a presunção de inocência foi relativizada. 
 
O magistrado não tocou no episódio que envolveu Marice e nem em nenhum outro, mas sustentou que a presunção da inocência é importante porque os juízes erram muito e por motivos diversos. Entre eles, citou, inclusive, a pressão da mídia e o medo de serem tarimbados como “petralhas”. “Falta coragem para decidir contra a opinião pública, que muitas vezes não passa da opinião publicada pela imprensa”, ressaltou. 
 
Elmir Duclerc Ramalho Junior, promotor na Bahia e professor de direito processual penal, reforçou que o projeto - inspirado na atuação de Moro na Lava Jato – está impregnado pelo autoritarismo. “Há uma tendência autoritária perigosa que lembra, sim, períodos autoritários da história da humanidade”, afirmou. Ele destacou que a população carcerária brasileira cresceu 16 vezes mais do que a população do país. “Não há malabarismo hermenêutico possível para dizer que não há a incorporação de um pensamento autoritário neste projeto”, disse. 
 
Professor de Criminologia da Faculdade de Direito da USP, Maurício Stegemann Dieter fez uma das críticas mais agressivas ao projeto e ao seu garoto-propaganda. De acordo com ele, o projeto está centrado em uma espécie de “populismo midiático”, que dispensa o conhecimento científico para se calcar no senso comum. Ele lembrou que nunca se prendeu tanta gente na história do país, inclusive gente do andar de cima, como políticos e donos de empreiteiras. Por isso, ele classifica como delírio a premissa que embasa o projeto e o discurso de  Moro: a de que o “Brasil é o país da impunidade”.  
 
Um quase epílogo
 
No dia 20 de setembro passado, João Vaccari Neto foi condenado por Moro a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa, pelo recebimento de pelo menos R$ 4,26 milhões em propina de contratos da Petrobras. Mas como os processos da Lava Jato correm em segredo de justiça e a imprensa só tem acesso ao que convém para seus condutores, ainda é difícil saber se há, de fato, provas contra Marice e Giselda, como sustentava o MPF em abril deste ano. 
 
Pode ser que sim. A revista Veja, um dos veículos presenteados com vazamentos seletivos do processo, diz que, entre 2008 e 2014, entraram R$ 322,9 mil na conta de Giselda, em vários depósitos parcelados. Segundo O Estado de S. Paulo, outro destinatário dos vazamentos seletivos, Marice teria recebido, em dezembro de 2013, propina da empreiteira OAS, alvo da investigação sobre corrupção e desvios na Petrobrás. Mas ambos os veículos também disseram que Marice era a mulher que aparecia fazendo depósitos nas agências do Itaú. Então, fica difícil ter certeza de qualquer coisa.
 
Mesmo atolado em denúncias de corrupção, manobras e desmandos de todo tipo, Cunha continua presidindo a Câmara dos Deputados do país. É o segundo na linha de sucessão da presidenta Dilma Rousseff e o homem que irá decidir se o parlamento acolherá ou não seu pedido de impeachment, como pleiteia a oposição.  O processo contra ele continua a tramitar no STF, agora sob sigilo. Partidos como o PSOL, Rede, PT e PSB já pediram a cassação do seu mandato, mas ele se recusa, inclusive, a deixar a presidência da Câmara. De Cláudia Cruz, não se tem nenhuma noticia. Continua livre, leve e solta.
 




Créditos da foto: ABr e internet