O senhor Eduardo Cosentino da Cunha acaba de entrar para a história política brasileira como uma das personalidades mais carecedoras de respeito que já pisaram o nosso parlamento. Não há muito a se esperar de uma personalidade que não hesita em mentir, chantagear, ameaçar, ocultar, usar o cargo em benefício próprio e tomar o Executivo, o Legislativo e a República toda de reféns para salvar sua própria pele. Mas a chantagem barata de Cunha agora há pouco, acolhendo o pedido de impeachment da Presidenta no momento em que percebeu a real possibilidade da cassação de seu mandato, vai além do que jamais suporia Maquiavel.
Estou no Panamá, aguardando a conexão do meu voo de retorno ao Brasil, mas não queria deixar de me pronunciar sobre a situação de extrema gravidade institucional em que o réu da Justiça que preside a Câmara dos Deputados, formalmente acusado pelos crimes de corrupção, evasão fiscal e lavagem de dinheiro, tem colocado o país. Esse sujeito menor, eleito com a força da grana e das mais obscuras transações, esse representante dos "podres poderes" que ao longo do último ano impôs ao Congresso uma agenda de atraso civilizatório, perda de direitos, conservadorismo, ódio e preconceito, está agora colocando o país à beira do abismo institucional apenas por necessidade própria.
Estou extremamente indignado, como todo brasileiro e toda brasileira deveriam estar nesse momento, independentemente de sua opinião sobre o governo da presidenta Dilma Rousseff. Sim, independentemente disso.
Eu faço parte da oposição de esquerda ao governo Dilma e, embora tenha votado nela no segundo turno por considerar que o outro candidato era ainda pior, avalio o governo dela como a maioria do povo: é um governo ruim, cada vez mais afastado das expectativas e necessidades do povo que o elegeu. Mas não é isso que está em discussão. O instituto do impeachment não foi incluído na Constituição para destituir governos ruins. Quem avalia os governos é o povo, a cada quatro anos, quando vota, e ao longo de cada mandato constitucional, manifestando-se nas ruas se achar necessário. A democracia, esse sistema imperfeito, mas melhor do que todos os outros, supõe o respeito pelo mandato popular, gostemos ou não do resultado das urnas. O impeachment é um remédio drástico, só aplicável em última instância, quando existe crime de responsabilidade. E não é o caso.
A presidenta Dilma não está sendo acusada de qualquer crime e não há motivos constitucionais para sua remoção, gostemos ou não dela ou do seu governo. E aqueles que, como eu, não gostamos teremos a chance de oferecer ao país uma alternativa nas eleições de 2018. É assim que a democracia funciona.
O que Eduardo Cunha fez no dia de hoje chama-se chantagem. Diferentemente da Presidenta, ele está sim acusado de gravíssimos crimes. Não por mim, mas pela Procuradoria-Geral da República. Um bandido com contas na Suíça e um longo histórico de envolvimento em escândalos de corrupção desde que chegou ao poder junto a PC Farias e Collor de Melo está, há meses, valendo-se da ameaça do impeachment da Presidenta para negociar e chantagear ao mesmo tempo petistas e tucanos, usando o impeachment como moeda de troca com uns e outros para se salvar da perda do próprio mandato no Conselho de Ética da Câmara, no "leilão" mais vergonhoso da história da República.
Não contem comigo e nem com o PSOL para essa farsa!
Continuaremos fazendo oposição republicana e responsável ao governo Dilma, contra os ajustes e as concessões ao poder econômico e às corporações, mas jamais seremos cúmplices de um golpe institucional. E continuaremos denunciando a atitude do PT e do PSDB e seus respectivos aliados, que escolheram negociar com o Diabo em vez de enfrentá-lo e, por isso, também são solidariamente responsáveis por essa vergonhosa situação.
Fora, Cunha!
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