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quinta-feira, 19 de maio de 2016

TEMER FOI ELEITO PARA SER VICE

por Felipe Zmoginski 



Na Constituição de 1946, feita pós Estado Novo, havia um dispositivo muito curioso: você podia votar num candidato a presidente do partido A e em um vice do partido B. É como se eu votasse assim: quero Lula presidente e Aécio vice. Ou vice-versa.

Graças a esse dispositivo, tivemos vices que tinham mais votos que os presidentes, caso de João Goulart, em 60. Jânio (do então PTC) ganhou apertado do general Lott para presidente, já Goulart ganhou fácil para “vice”, concorrendo pelo PTB. Engraçado, não?

A Constituição de 88, porém, estabelece uma linha direta: você vota na chapa, prefeito e vice, governador e vice, presidente e vice. Sem escolhas. O mesmo vale para senador: titular e suplente.

Agora, com Serra ministro, José Aníbal será senador por São Paulo. Veja, Aníbal não tinha votos sequer para ser vereador (!!!) em São Paulo, mas vai tornar-se senador pelo Estado mais populoso do país. Hoje, no Senado, há 10 senadores nesta situação. São chamados de “a bancada dos sem voto”.

Na Câmara, então, é uma zona. Você vota todo feliz em uma candidata feminista, de um partido de esquerda, por exemplo, o PDT. Ou vota em um pastor conservador, do PR.

Mas, se naquele estado, o PDT estiver coligado com PR, por exemplo, seu voto vai para formar o “coeficiente eleitoral” da coligação e, na prática, seu voto acaba elegendo alguém de pensamento oposto ao de seu candidato.

Foi assim, por exemplo, que pessoas que queriam “protestar” contra políticos e votaram em Tiririca em 2010 elegeram Valdemar da Costa Neto, um cara condenado por receber $$ para vender o apoio de seu partido ao governo. Tiririca teve tantos votos que o “coeficiente” permitiu levar para a câmara váaarios “sem voto”, entre eles Valdemar.

Notem que, em nenhum lugar do mundo, existe um sistema “100% democrático”, mas, no Brasil, infelizmente, as distorções são muito exageradas.

Em 2010, quando o PT fechou aliança com o PMDB, Temer quis ver vice justamente por que temia ficar sem mandato. Pesquisas internas indicavam que ele não teria votos para ser nem mesmo deputado federal.

Uma recente pesquisa, o Datafolha apontou que, em 2015, as intenções de voto em Temer seriam de 1%. Este é o mesmo percentual de candidatos ridículos, como Eimael, Levy Fidelix, Ciro Moura, etc.

Agora, em 2010 e 2014, as pessoas votaram em Dilma, basicamente, por causa do Lula, queriam seu projeto, seus programas sociais.

Temer estava na urna, sim, mas não era puxador de votos. Era um acordo político, para dar sustentação ao governo. Afinal, o PMDB é "o maior partido do Brasil", tem a maior representação no parlamento.

Acordos políticos não são, necessariamente, coisas feias. São necessárias. Só no antigo absolutismo monárquico se governava sozinho. Na democracia, você faz acordos, concessões.

O excelente filme “Lincoln” conta como o então presidente americano “ofereceu vantagens indevidas” a oposicionistas e como o líder abolicionista no Congresso, casado com uma negra, teve que fazer um discurso dizendo que os "afro-americanos" eram inferiores aos brancos, mas, mesmo assim, mereciam ser livres.

Foi ofendido e criticado por outros abolicionistas, que viam os negros em igualdade com os brancos. ISSO É POLÍTICA. Faz-se concessões dolorosas em nome de um objtetivo maior. No caso, abolir a escravidão e acabar com a Secessão.

Por fim, é preciso lembrar que Temer é um TRAIDOR. Como todo traidor, ele ganha sua confiança, se passa por amigo, desfruta de sua intimidade mas, quando vê uma vantagem maior do outro lado, trai.

A base da traição é a quebra da lealdade. Se é verdade que as pessoas que votaram em Dilma votaram em Temer, então Temer traiu as pessoas que votaram nele para vice, manobrando para ser outra coisa que não "apenas o vice decorativo", para a qual foi legitimamente eleito.




Dilma não morreu, não ficou doente, não foi sequer afastada pela oposição tucana. Foi ativa e decisiva a atuação de Temer e seu operador, Cunha, para derrubá-la. 

Uma traição.

Temer foi eleito para “apoiar, dar governabilidade”, se apresentou como tal, mas revelou-se um sabotador tão logo percebeu que teria espaço para obter êxito em sua conspiração.

Logo, me parece intelectualmente desonesto “acusar” um eleitor de Dilma do “crime” de ter votado em Temer.

É como se, ao lamentar a forca, Tiradentes tivesse que ouvir, “bom, mas não foi você quem chamou o Joaquim Silvério para a Inconfidência?”. A traição nunca é cometida por um adversário, de quem se espera, justamente, a imposição de adversidades.

Na Roma antiga, Brutus era um apoiador confiável de Júlio César, bem como Silvério dos Reis, um amigo de Tiradentes no Brasil colonial. Ou Judas, um seguidor leal de Cristo.

Todos tiveram vantagens imediatas graças a rasteira que aplicaram em seus aliados. Receberam elogios, o perdão de dívidas, moedas de ouro...

A história, porém, reservou a todos eles um triste registro.

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