Como era de se esperar, depois da interminável arenga do relator Gilmar Mendes, a mesma maioria de 6 votos a 3 que havia rejeitado a reclamação italiana decidiu pela imediata expedição do alvará de soltura do escritor Cesare Battisti.
Por Celso Lugaretti
A derrota foi muito mal digerida por Mendes, que dirigiu apartes azedos contra a decisão dos colegas; e pelo presidente Cezar Peluso, que lançou uma furibunda catalinária contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de proclamar, muito a contragosto, o resultado: no que depender do STF, Battisti está liberado.
Foi uma extraordinária vitória contra os reacionários de dois continentes e contra a formidável máquina de propaganda acionada para o sacrifício ritual de um símbolo vivo dos ideais de 1968.
Durante todos estes anos, sempre soube que era a vida de Battisti que estava em jogo. Não duvidei por um momento sequer de que ele cumprisse o que me segredou: se ordenada a extradição, preferiria suicidar-se a servir de troféu para os fascistas italianos.
Percebíamos que isto jamais deveria ser tornado público antes do desfecho do caso, para que os inimigos não nos acusassem de chantagem emocional. Mas, é um fardo terrível para se carregar: a consciência de que dos nossos erros e acertos depende a vida de um companheiro.
Então, o que mais sinto neste instante é alívio. E uma imensa euforia por saber que Battisti está livre do pesadelo dessa vendetta tardia, muito mais difícil de suportar para quem deixou a dura militância para trás e construiu uma nova identidade.
Comecei a formar uma consciência política com a leitura de A tragédia de Sacco e Vanzetti, de Howard Fast, retirado meio por acaso da biblioteca circulante da Mooca, quando eu tinha 13 ou 14 anos.
Parece incrível que, na outra ponta da vida, tenha surgido uma oportunidade de eu contribuir para que um também injustiçado, também italiano, não sofresse martírio semelhante. E que nós tenhamos obtido êxito onde tantos e tão valorosos, alhures, não conseguiram. Tirem o chapéu: o Brasil se negou a entregar o bode expiatório que o 1º mundo exigia!
Linchadores de Battisti goleados
Depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu não levar em conta a reclamação da Itália contra a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se negou a extraditar Cesare Battisti, o relator Gilmar Mendes impôs a todos o penoso dever de ouvir seu longo e tedioso parecer, colcha de retalhos de tecnicalices e falácias, colocando em questão exatamente aquilo que já havia sido votado.
Depois de encerrada sua inútil peroração – não conseguirá vencer seus colegas pelo cansaço nem os vai iludir com seus contorcionismos jurídicos –, o plenário do STF resolverá a única questão ainda pendente: quando e como será libertado o escritor.
As figurinhas carimbadas Cezar Peluso e Gilmar Mendes só conseguiram atrair Ellen Gracie para sua posição inquisitorial. A postura legalista é assumida por Carlos Ayres Britto, Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski.
Hoje eu sinto orgulho de ser brasileiro.
* Celso Lugaretti é jornalista, escritor e blogueiro
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