segunda-feira, 8 de junho de 2015
Por quanto tempo os "cristãos" farão uso da homofobia como capital político?
Por Davis Alvim
Certamente, hoje você tem visto "cristãos" ofendidos com a encenação da crucificação feita pela atriz e modelo Viviany Beleboni na 19ª parada gay de São Paulo.
O curioso das primeiras reações "cristãs" é que elas não sabem explicar, exatamente, qual a razão da ofensa. Marcos Feliciano, por exemplo, se perguntou “Profanar nossa fé pode? Debochar de símbolos sagrados publicamente pode?” e, em seguida, sugeriu que os patrocinadores do movimento são ligados ao “governo comunista brasileiro”. Deixando de lado o fato de que o pastor não faz ideia do que é comunismo, nota-se que ele, bem como boa parte dos "cristãos" indignados de primeira hora, não apresenta razões concretas para a ofensa. Simplesmente dizem “estamos ofendidos” e “debocharam de Jesus!”. Os "cristãos", porém, têm razão de estarem ofendidos sem saber bem o por quê.
A intervenção artística, que apresenta uma mulher trans crucificada trazendo sob sua cabeça os escritos “Basta / HOMOFOBIA / GLBT”, não está, exatamente, debochando do cristianismo, mas sim lhe fazendo uma crítica dura e verdadeira, a saber: 'os "cristãos" fazem com a comunidade LGBT exatamente o que os romanos fizeram com Cristo e com os cristãos – perseguem, agridem, condenam, torturam e matam'. Tudo isso é verdade especialmente se levarmos em conta a forma como nossa sociedade, majoritariamente "cristã", trata as mulheres trans e as travestis.
Os "cristãos" não foram ofendidos porque a imagem de Cristo foi profanada, foram ofendidos pois foi "esfregado" em suas faces sua crueldade, maldade e mesquinharia – o que, segundo alguns, contraria os próprios ensinamentos de Cristo.
As lutas das minorias, frequentemente, colocam questões maiores do que os direitos das mesmas. Da mesma forma que os movimentos negros colocaram em questão o sistema educacional, prisional e também a própria desigualdade social, da mesma maneira que a luta feminista colocou em questão o problema da designação dos gêneros, da família e da violência, a luta LGBT coloca o cristianismo em xeque e apresenta a ele mais um desafio histórico: por quanto tempo as religiões "cristãs" darão suporte à homofobia e à violência, cotidianas e heteronormativas? Por quanto tempo o cristianismo estará presente, direta e indiretamente, nas bocas, mãos, pedras e gatilhos que esfolam e matam corpos e subjetividades LGBT's? Por quanto tempo os
"cristãos" farão uso da homofobia como capital político? Essas são algumas das perguntas que a crucificação simbólica de uma travesti impõe. Porém, ao invés de encarar as perguntas de frente, muitos preferem estar "ofendidos".
Davis Alvim é
Professor de História do IFES - Instituto Federal do Espirito Santo
Marcadores:
PARADA LGBT 2015- SÃO PAULO- CRSITÃOS- BRASIL
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