Blog I'unitá Brasil

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quinta-feira, 16 de junho de 2016

Política no Brasil e os amadores

Por Afonso Hipólito






Ano de pleito sempre observo as movimentações (ainda mais após o último) com muito cuidado antes pra não sentir vergonha e culpa depois, contexto no qual ainda não me encontrei. Nesta fase de observação sempre me deparo com todo tipo de pré-candidato, a este ou aquele cargo. E este pleito se anuncia bem diferente, já que, de antemão, sabemos que o cenário pode mudar para além das pequenas coisas que mudam pelo curso natural entre um e outro. Mas observando me deparo com alguns tipos que suscitam em mim piedade e tristeza. Tem aquele tipo bacana, gente fina do bairro, amigão da galera no trabalho e pouco além disso, que acha, seja por conta do "incentivo" de um oportunista de um partidinho de aluguel qualquer ou por outro motivo, que vai "mudar a coisa toda", aí começa a ir à reuniões do partidinho onde não se faz mais do que comer alguns biscoitos e tomar suco ruim, e quando se diz algo que parece importante- na cabecinha dele-, não entende patavinas, mas volta pra casa, para no bar, recebe os abraços de um, de outro, ouve aquele "esse é meu vereador", no que responde " não é por aí, me coloquei à disposição do partido, só isso, por enquanto"(o cara do partidinho, que já esteve no bar, mais de uma vez, e já pagou algumas rodadas de cerveja e uma de petiscos, fez ele decorar essa fala, por "cautela"), daí fica mais alguns minutos e se despede, dá um 'alô' para o dono do bar, que pergunta se não vai beber alguma coisa, no que responde com um "não, não, hoje não, vou é acabar de chegar", neste momento vem um "já tá importante, oh", e ele solta mais uma frase e sai (aqui ele já está deixando de lado a importância genuína que sentia pelo que de fato é e começando a entrar- sem ver- numa farsa); passa o tempo, reuniões às quartas, aquele pedido de força ($) para a campanha já não soa mal porque ele já "entendeu" e acreditou, de tanto ouvir do cara do partidinho, "que até pra fazer o bem é preciso pagar"; chega o dia da votação e o movimento é grande, a sensação de que é importante- não pelo que é mas por algo falso já lhe acometeu até a alma e ao fim do dia, cair da noite, temos duas possibilidades: 1) eleito contra todas as "forças naturais" do jogo sujo com trocentas cartas marcadas, o que para ele não é surpresa, já que ele está imerso num mundo que criaram para ele, surpresa aqui é para o partidinho (para o cara do partidinho e para o partidinho uma coisa dessa é como repetir um cartão de loteria e só notar quando vir que a combinação foi ganhadora), daí pra frente os desdobramentos variam dependendo de quem se elegeu para o Executivo, mas uma coisa é certa, as chances do novo vereador não entrar num esquema pernicioso é quase nula; 2) teve 137 votos (precisava de pelo menos 3 mil pra ser eleito), votação que não lhe garante nem o oferecimento de um cantinho no cabide de emprego que é toda prefeitura como acalento (caso o partidinho esteja na coligação que vai assumir no ano seguinte); o que se entende no caso do hipotético pré-candidato analisado é que uma figura dessa era feliz numa vida simples e até conseguia ajudar na construção da felicidade de outras pessoas e agora, levando em conta o primeiro cenário pós-eleição, vai ajudar a piorar o mundo, e levando em conta o segundo cenário, perdeu a felicidade, o que pode ser que reencontre, e a capacidade de ajudar na construção da felicidade de outras pessoas (137?). Agora um segundo tipo que suscita piedade em mim (até certo ponto de sua trajetória): o jovem que está num Partido grande que já foi considerado a única solução para mudar o país para melhor; o jovem entrou no Partido na adolescência influenciado por familiares e amigos, logo se enturmou, alguns membros do Partido viram potencial no garoto, uns para angariar outros garotos, já que filiar era preciso, outros porque achavam que o garoto poderia ajudar muito, porque lutavam pelo que acreditavam e acreditavam em coisas boas e viam no garoto um fortalecimento dessa fé; o tempo passa, o Partido, que chegara ao Poder da nação pouco tempo antes do garoto chegar ao Partido, já vez muitas mudanças extraordinárias no país mas acaba se enrolando e já é contestado como a única solução, ainda assim ganha novas chances, faz novas boas e grandes mudanças, se enrola mais e é mais contestado, aqueles que acreditavam que era preciso filiar mais gente investe no garoto de sorriso fácil, que assume um posto aqui um posto ali na vida pública com ajuda do Partido, e com seu esforço também, afinal, ele tem o sorriso fácil, é honesto, mas agora num cargo público aqui, apesar de não ser entre "os grandes", "é um lugar importante entre os pequenos que serão grandes com o esforço também de um garoto", precisa fazer por onde, só que o garoto tem sorriso fácil mas falta-lhe tino para o estudo e para aplicação do mesmo, não tem problema, "tem as meninas do Partido que podem ajudar", segue em frente, o garoto só faz angariar filiados, sai do cargo X porque já está grandinho demais para ficar entre os pequenos, arruma um emprego, não se acerta porque tem chefe, tá chateado, "o Partido não pode abandonar o garoto", brada um adepto da política de filiações como salvação da lavoura, como se deixar que o garoto trabalhe fosse abandoná-lo, mas tem solução, bota ele naquele cargo X, e o garoto volta a sorrir, compra um carro popular, tá filiando muitas meninas, não tem tino para o estudo mas não tem problema, vai pra Faculdade privada, entrar é fácil, o Partido ajuda sem parecer que está ajudando, afinal de contas, não se pode mexer com o ego do garoto, entrou as meninas do Partido ajudam; o Partido não para de se enrolar e a política de filiações como salvação não funciona porque não tem como funcionar, mas vai em frente, tem campanha, o garoto vai ser o vereador mais votado do município, com certeza, está até reforçando seu palanque; chega a campanha, roda o município, fica estressado com o atraso no apoio ($) do Partido, o apoio vem, a campanha chega ao fim, o resultado da votação é certo, tá garantido, se esborracha no chão e descobre que o palanque reforçado no qual se pôs sobre para falar como se numa conferência da ONU estivesse não passava de um caixote, desses de feira, de madeira podre, mas outros companheiros venceram, vamos pra festa; o tempo passa, o garoto continua filiando, até que começa a diminuir o número, tá difícil, a falta de tino para o estudo e aplicação dele tá fazendo falta, afinal, não está convencendo os jovens a se filiarem, assim o Partido bota pra ajoelhar no milho e toma o cargo, o garoto arranja um trabalho, mas pega pirraça, até que o Partido, cada vez mais enrolado e contestado, passa a mão na cabeça do garoto, que volta para um cargo, dessa vez no gabinete de um companheiro, o garoto sorri de novo, já está se sentindo um senador que ficou famoso jovem com a cara pintada, o Partido enrolado, a oposição cresce, ataca sem piedade e sem critérios, o povo engole o que a oposição faz, a situação está complicada, o garoto aceita mitigar a pirraça com um número menor de biscoitos, afinal, não tarda ele terá seu próprio mandato, e talvez um projeto, só não quer falar, afinal, vai que um companheiro desalmado rouba, hora de subir novamente no palanque, que ainda não descobriu que é outro caixote de madeira em condições piores do que o primeiro, mas agora muito é espera. Sigo observando...

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