Blog I'unitá Brasil

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quarta-feira, 16 de março de 2011

DESASTRE NO JAPÃO E OPORTUNISMO ANTINUCLEAR

Postado por Carlos Orsi aqui


Sobre a energia nuclear, nossa amiga incompreendida

A maior parte da humanidade tem uma visão estereotipada do uso da energia atômica. Vários filmes de qualidade duvidosa durante a Guerra Fria, quando o temor de uma guerra nuclear era evidente, praticamente colocaram no senso comum que usina nuclear e bomba atômica "é tudo a mesma coisa e deve ser banida a todo custo". Talvez comece por aí a motivação do verdadeiro circo de informações errôneas sobre o que está acontecendo atualmente em Fukushima, no Japão. No final de semana, no auge da crise, a radiação em torno do prédio do reator (o lugar em que a radiação estaria mais forte) era de 1,5 milisievert por hora. Ou seja, sentado no topo do prédio do reator um camarada demoraria uma hora para absorver 1,5 milisievert. Isso, por si, não diz muita coisa, certo? Seria o suficiente para provocar mutações horríveis e fazer surgir o Godzilla no fundo do oceano? Nem tanto. Só para efeito de comparação, quando um paciente faz uma tomografia computadorizada de crânio, absorve, em menos de um minuto, 2 milisievert. De tórax? Até 5 milisievert. Abdome e pelve juntos? Até 8 milisievert. No caso dos militares americanos expostos, a dose máxima de radiação a bordo do porta-aviões foi "menor do que a recebida em um mês de exposição à radiação de fontes naturais como as rochas, a terra e o sol". A mesma notícia informa que "a radiação pode ser eliminada com água e sabão". 

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Godzilla após receber muita radiação. 

Não obstante, até mesmo quando aparece um ou outro artigo defendendo a energia nuclear e criticando a histeria, alguns pontos precisam ser esclarecidos. Vejam este exemplo:


Há várias razões para questionar a opção pelo uso de energia nuclear -- para citar as duas que considero mais importantes, há o problema da destinação do lixo atômico e o do uso bélico da tecnologia -- mas o estado da instalação nuclear japonesa de Fukushima após o terremoto-com-tsunami que atingiu o país não é uma delas, ao contrário do que algumas pessoas (incluindo gente que, por dever profissional, deveria saber melhor) andam dizendo. Digo, se um meteorito gigante atingir a barragem de Itaipu e a inundação subsequente devastar Buenos Aires, isso será motivo para questionar a opção pela energia hidrelétrica? Quando um motorista sofre um ataque cardíaco ao volante, sobe na calçada e mata uma criança, isso nos leva a questionar a tecnologia do motor a explosão interna?

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Quem aponta para Fukushima (que, tendo em vista a magnitude do tremor e do tsunami, está se aguentando muito bem, ao menos por enquanto) como sinal dos riscos da energia nuclear se esquece de que toda decisão humana implica riscos. É perfeitamente concebível que uma decisão diferente da adoção da fissão nuclear como fonte de energia tivesse riscos menores, ou mais aceitáveis, mas esse é o tipo de análise que tem de ser feita numa base caso-a-caso. Usar Fukushima como um argumento genérico contra a opção nuclear me parece tão desonesto quanto culpar a gasolina pelas mortes por atropelamento. Para quem quiser saber mais sobre reatores de fissão, há uma boa postagem neste blog; e o físico Michio Kaku está acompanhando a situação de Fukushima, aqui. A imagem que ilustra a postagem veio daqui

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O que faltou dizer:

Na verdade, "o problema da destinação do lixo atômico" é superestimado e trata-se de factóide. Vale ilustrar com um exemplo vindo da boca do próprio James Lovelock, que é o criador da Hipótese Gaia, mas que hoje em dia é 100% a favor da energia nuclear. Cem gramas de urânio - um pedacinho talvez do tamanho de um chicletes grande, considerando o quão absurda é a densidade do urânio - gera tanta energia quanto 600 toneladas de carvão. Agora, o que será que causa mais impacto ambiental: queimar uns cinco, seis vagões de trem cheios de carvão até a borda, lançando toda a porcariada resultante - cinzas, CO2, enxofre - na atmosfera; ou fazer o "chiclete" gerar a mesma quantidade de calor sem exalar nada, e depois guardar o "chiclete" gasto em uma caixa de concreto?

Saindo do exemplo do Lovelock, alguns exemplos práticos de como o "problema" do lixo nuclear é tratado sem stress pelo mundo afora:

- Na França, a maioria da energia é de origem nuclear, e isso há mais de 30 anos. No entanto, o país inteiro tem *um* depósito de lixo nuclear, com dezenas de milhares de metros cúbicos de lixo atômico. "Dezenas de milhares de metros cúbicos" pode parecer muita coisa (e inclusive o número solto é usado em relatórios alarmistas do Greenpeace porque soa grande), mas um galpão grande, de 100x100x10 metros, já tem cem mil metros cúbicos de capacidade. Francamente, um caixotão de concreto a cada 30 anos para um país inteiro não é exatamente uma demanda monstruosa de infra-estrutura. E não estamos falando de um país qualquer, a França é um país que utiliza muita energia.

- Aqui no Brasil, o lixo nuclear das Angras 1 e 2 - que funcionam há mais de 20 anos - é todo guardado em um único caixotão de concreto por lá mesmo. Recentemente uma reportagem da Globo News apresentou o local quase todo vazio, só com umas pilhas de material jogadas em um canto.

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E por que não energia eólica ou solar ao invés de nuclear?

A energia solar e a eólica são enganosamente baratas. Na verdade, elas exigem mais despesas para a sua produção do que o retorno em termos de geração de energia; são formas primitivas de geração energética, utilizáveis apenas em locais muito remotos onde outras opções não estão disponíveis. Um país que dependesse em grande escala destas categorias levaria inevitavelmente a sua economia ao colapso. Na Alemanha, já há movimentos contrários à proliferação de usinas eólicas. Já se disse que elas causaram uma devastação na paisagem maior do que a Guerra dos Trinta Anos. Tanto a produção eólica como a fotovoltaica padecem duma desvantagem atroz: demandam enormes extensões de território para a sua operação. O maior sítio solar do mundo, na Califórnia, que alimenta apenas 50 mil residências, se espalha por uma superfície de 1 milhão de metros quadrados!

Em relação aos custos de energia, as diferenças são ainda mais brutais. Enquanto as células solares exigem um custo de US$680,00/MWh, um reator de fissão nuclear (água leve) demanda um custo de meros US$28,50/MWh! É necessário um investimento de capital de US$28,90 bilhões para se obter 1 gigawatt solar, contra apenas US$1,16 para o gigawatt nuclear. Com a fusão termonuclear controlada, escaparíamos das limitações dos combustíveis não renováveis. O hidrogênio é abundante no universo e a obtenção do isótopo de deutério de misturas de hidrogênio-isótopos, disponíveis na Terra e em outros lugares, está bem estabelecida. O combustível para a fusão é quase ilimitado em relação a outras fontes de energia na Terra, e, conforme a tecnologia avança, o fornecimento de combustível se tornará totalmente ilimitado para todos os propósitos práticos previsíveis, por milênios afora.

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(escrito com a ajuda do ilustre Dr. Omni, meu especialista preferido neste tipo de assunto, do Dr. Marco Lazzeri, além da paciência do não menos ilustre girino vey). 

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