Blog I'unitá Brasil

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Grécia: esquerda rediviva

Por Marcelo Carvalho




Chafurdada num grande lodaçal de dívidas, desemprego e recessão, a Grécia curvou-se nesse último domingo ao canto da esquerda europeia, que renasce no país berço da filosofia ocidental, que engendrou nomes do quilate de Platão, Sócrates, Aristóteles, Heráclito etc.

Temia a troika – Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI – pelo pior: a escalada do movimento de esquerda nesse país, cujas implementações entrechocam-se com a ânsia de soerguer um sistema bancário instado à bancarrota, corolário de equívocos fiscal, econômico, geográfico  e planejamento, redundando num arremedo de Confederação.

Erige-se concomitantemente um sucedâneo de dama de ferro, a alemã Ângela Merkel como arauto de um pacote de austeridade cujas consequências nefastas amarga o povo europeu, com grandes abalos aqui e ali. 

Experiencia o Velho Mundo situações as quais não se imaginara como altos índices de desemprego, perda de autonomia governamental, dada a condição de subserviência a entidades econômicas externas, e o mais grave, que eleva a dor ao seu paroxismo: a recessão em níveis belicosos, como se estivesse a Europa imiscuída numa guerra sem fim.

Com tais acontecimentos, a direita girondina hipertrofia suas forças e reserva aos cidadãos daquele continente uma ideologia calcada no chauvinismo, na xenofobia – observemos os recorrentes casos de intolerância de todas as matizes na França -, nos pacotes de austeridade desconexos do concreto e uma crise cujo fim se distancia à medida que se implementam ações obnubiladas pelo erro de metodologia.

Com a vitória do Syriza, arregimentando 149 das 300 cadeiras do Parlamento grego é muito provável que o jovem político Alexis Tsipras negocie um governo de coalizão com as demais siglas, de modo que a sua principal promessa de campanha, o pacote antiausteridade, amenize a crise grega e jogue luzes numa esquerda europeia que se observa num contexto bastante favorável de atuação política.

Na esteira desses acontecimentos – o movimento Podemos ousa lograr êxito na Espanha - é impossível não se nos remetermos à exortação marxista posta em O Manifesto do Partido Comunista: “um espectro ronda a Europa, o espectro do Comunismo”. Malgrado alguns analistas da inteligenttsia direitista neguem, há um soerguimento da esquerda jacobina europeia que tende a grassar por outras plagas, até mesmo no paraíso da contra-revolução, a América Latina.  

Fonte da imagem AQUI

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

GOLDMAN CONVOCA GOLPE E O CHAMA DE 'TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA'

por www.brasil247.com



Vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman voltou a afirmar que presidente Dilma Rousseff não teria condições de terminar mandato; “Como e quando será possível uma transição democrática, supondo que a situação não possa ser mantida pelos 4 anos desse mandato. Essa é a questão posta para a oposição e para as forças democráticas do País. É a nossa tarefa”, escreveu o ex-governador de São Paulo, ao propor um atalho golpista para a oposição.


Em seu blog Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, voltou a defender o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ele convoca a oposição para fazer a ‘transição democrática’. Leia: AQUI


O que vai sobrar do governo Dilma? O que vai sobrar da presidente?
Cada dia que passa, nesse primeiro ano do governo da reeleição, o quadro se desenha mais grave.
Esta semana, então, que só está começando, parece o fim do mundo. Chegou o apagão. Sim aquele mesmo que nunca viria, promessa de Dilma. Ah, sim, existem razões objetivas para isso, o calor e a seca não são de rua responsabilidade. Mas é de sua responsabilidade a desestruturação total do setor elétrico, promovida para que se pudesse apresentar, antes das eleições, um tarifa de energia elétrica mais baixa.
O setor entrou em crise, até hoje tem mundos de dinheiro a receber, do governo e, em consequência, dos usuários, o que o levou a apertar custos de manutenção e a adiar investimentos. Está em stress permanente. Apesar da nossa indústria estar andando para trás, ainda assim o Operador Nacional do Sistema elétrico pediu aos grandes consumidores que diminuíssem a demanda. Se tivéssemos algum crescimento econômico o apagão seria muito mais geral e profundo.
Mas o governo está sob um apagão permanente. E não será a equipe de resgate ( Joaquim Levy e companhia ) que vai tirá-la da UTI. Vão usando todos os remédios que Dilma disse que não usaria, contra os pensionistas, contra os desempregados, contra as conquistas trabalhistas. Vão aumentar impostos, a Cide, o Pis/Cofins, o IOF, aumentar tarifas de serviços públicos, aumentar a taxa básica dos juros. Tudo isso é paliativo para chegar aos míseros 1,2% do PIB de superávit nas contas públicas ( apenas 66 bilhões para pagar uma dívida que cresce 240 bilhões em um ano ). Os investimentos continuam baixos, a inflação alta, os juros altos, a criação de postos de emprego baixa, o comércio e o consumo em baixa, a credibilidade e o crescimento empatados em zero.
Não é só. As investigações em diversas áreas do governo, em especial na Petrobras, mostram uma total deterioração do governo e dos partidos que o sustentam. Diretores são presos e processados, e se acusam uns aos outros. Até o ex diretor,Nestor Cerveró, que tinha dado uma de fortaleza, já perguntou porque ele está preso e a Graça Foster não. O Sergio Gabrielli que era o presidente da empresa, acusado por diretores, diz que não sabia de nada (?), e já está apontando para a ex presidente do Conselho, a Dilma Rousseff.
É um Deus nos acuda, um salve-se quem puder.
E o que sobra de Dilma e de seu governo? Como vai resistir quatro anos em um quadro de superação difícil, se não impossível. Como e quando será possível uma transição democrática, supondo que a situação não possa ser mantida pelos 4 anos desse mandato.
Essa é a questão posta para a oposição e para as forças democráticas do País. É a nossa tarefa.
 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

INDONÉSIA: CONTRADIÇÃO E HIPOCRISIA

por Afonso Hipólito




Muito se falou mas, apenas em pouco de tudo, ladeou a coerência no que foi dito sobre a execução de homens acusados de tráfico de drogas na Indonésia.

Por que tantas pessoas se arriscam a levar cocaína para um país que sabem que os condenarão à morte se os pegarem.

É preciso entender, para início de conversa que, se tanta cocaína é ofertada  é porque há demanda, o que torna o país um dos mercados de cocaína mais lucrativos do mundo.

O esquema que leva cocaína para a Indonésia é enorme, organizado e envolve, inclusive, muitas autoridades.

Cidadãos indonésios compõe o esquema de tráfico de cocaína com pessoas de outros países, que são convidados a partir de uma espécie de triagem, onde as principais exigências são de que sejam poliglotas, tenham dupla cidadania e ótima circulação na alta sociedade.

O trabalho dos cidadãos não-indonésios consiste em aliciar pessoas em países pobres do continente africano e em países tido como pacíficos mundo afora, como Brasil e Holanda, por exemplo, para serem transportadores da droga. Os aliciados em questão se juntam a atletas, principalmente surfistas, de passagem pela Indonésia e que, mediante recusa, veem suas vidas reviradas ao avesso ao serem acusados por crimes com provas forjadas pelo esquema.

Com o transporte garantido os membros indonésios tratam de preparar a estrutura para receber a cocaína, distribuir e assegurar que nada de errado aconteça até o processo final, que é o da venda aos consumidores, que são executivos do próprio país e de outros que por lá se encontram, além dos muitos turistas milionários em seus balneários.

Os transportadores fazem até cinco viagens recebendo o dinheiro acordado, que é devolvido aos aliciadores como investimento num pseudo esquema de sociedade, que não ocorre pois serão presos na viagem seguinte denunciados pelos próprios membros, normalmente com uma quantidade menor do que costumam levar.

Não existe concorrência para o esquema narrado aqui, porque todos que são presos com drogas e não fazem parte do mesmo são presos e os casos separados. Em se tratando de norte-americanos presos com drogas, por exemplo, todos que foram presos até hoje foram expulsos, nem extraditados, quase que como se a Indonésia estivesse garantindo que norte-americano preso com drogas lá não são julgados nem em solo estado-unidense.


A PENA DE MORTE


Na Indonésia as execuções por fuzilamento acontecem desde 1964, e estima-se que, desde então, até meados dos anos de 1990, mais de 600 mil estrangeiros tenham sido executados, a maioria comunistas condenados com provas forjadas por outros crimes em período de ditaduras em seus países; muitos enviados pelos Estados Unidos no período da Guerra Fria após serem presos e acusados de espionagem por hipócritas que, não querendo sujar as mãos com sangue de estrangeiros deixavam o serviço sujo nas mãos de outros hipócritas.


SOLIDARIEDADE

Quando um tsunami devastou a Indonésia em 2004, o mundo se juntou para reconstruir o país. E enquanto cidadãos de várias nacionalidades trabalhavam na reconstrução, crianças eram vendidas por traficantes de órgãos pertencentes à quadrilhas compostas também, inclusive, por autoridades; mulheres eram estupradas, exploradas (ainda são), espancadas, escravizadas e vendidas, e idosos e moradores de rua em geral tinham em seus corpos ácido derramado, quando não eram mortos por conterrâneos.


O TERRORISMO


Terroristas do Islã radical do mundo inteiro se refugiam na Indonésia quando conseguem escapar da polícia e lá são tratados como heróis, juntamente com terroristas indonésios que, quando julgados e condenados a, no máximo, 20 anos de prisão, no apagar das luzes das poucas câmeras da imprensa internacional que conseguem documentar, são soltos, recebem identidade nova e toda uma estrutura para que possam se preparar para um novo ataque.



  


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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A Batalha de Alexandre Lima

No fim da segunda metade dos anos de 1990, a Grande Vitória efervescia, respingando pelo resto do Espírito Santo, como que ignorando que pelo resto do País e do mundo havia quem não quisesse enxergar que havia arte pulsante por aqui, e que não obstante dispersa em tribos distintas, pulsava unida, afinal, todos viviam os prazeres de um orgasmo multicultural, ainda que sob tendas arcaicas. E é em nome desses prazeres que foram exprimidos como armas de paz na luta para que a cultura capixaba fosse reconhecida e tivesse dias de mais oportunidades que pedimos aos que tais dias viveram e que deles falaram e aos que ouviram falar, que ajudem a trazer de volta ao front dessa batalha linda, que deve ser diária, para que todos tenham acesso e orgulho de nossa cultura, o guerreiro Alexandre Lima, que por conta de um problema de saúde, hoje se encontra sobre uma cama que, apesar de estar rodeada de pessoas que o amam, sempre, não é seu lugar, ao menos não nas condições em que se encontra.

A batalha de Alexandre e dos seus é dispendiosa e com ajuda daqueles que vivem a vida de coração pode se tornar menos pesada. Para ajudar é só entrar em contato com algum familiar num dos 'link's' abaixo:








Pensar o atentado ao Charlie Hebdo

por Slavoj Žižek

Publicado em em Blog da Boitempo 



É agora – quando estamos todos em estado de choque depois da carnificina na sede do Charlie Hebdo – o momento certo para encontrar coragem para pensar. Agora, e não depois, quando as coisas acalmarem, como tentam nos convencer os proponentes da sabedoria barata: o difícil é justamente combinar o calor do momento com o ato de pensar. Pensar quando o rescaldo dos eventos esfriar não gera uma verdade mais balanceada, ela na verdade normaliza a situação de forma a nos permitir evitar as verdades mais afiadas.

Pensar significa ir adiante do pathos da solidariedade universal que explodiu nos dias que sucederam o evento e culminaram no espetáculo de domingo, 11 de janeiro de 2015, com grandes nomes políticos ao redor do globo de mãos dadas, de Cameron a Lavrov, de Netanyahu a Abbas – talvez a imagem mais bem acabada da falsidade hipócrita. O verdadeiro gesto Charlie Hebdo seria ter publicado na capa do semanário uma grande caricatura brutal e grosseiramente tirando sarro desse evento, com cartuns de Netanyahu e Abbas, Lavrov e Cameron, e outros casais se abraçando e beijando intensamente enquanto afiam facas por trás de suas costas.

Devemos, é claro, condenar sem ambiguidade os homicídios como um ataque contra a essência das nossas liberdades, e condená-los sem nenhuma ressalva oculta (como quem diria “mas Charlie Hebdo estava também provocando e humilhando os muçulmanos demais”). Devemos também rejeitar toda abordagem calcada no efeito mitigante do apelo ao “contexto mais amplo”: algo como, “os irmãos terroristas eram profundamente afetados pelos horrores da ocupação estadunidense do Iraque” (OK, mas então por que não simplesmente atacaram alguma instalação militar norte-americana ao invés de um semanário satírico francês?), ou como, “muçulmanos são de fato uma minoria explorada e escassamente tolerada” (OK, mas negros afro-descendentes são tudo isso e mais e no entanto não praticam atentados a bomba ou chacinas), etc. etc. O problema com tal evocação da complexidade do pano de fundo é que ele pode muito bem ser usado a propósito de Hitler: ele também coordenou uma mobilização diante da injustiça do tratado de Versalhes, mas no entanto era completamente justificável combater o regime nazista com todos os meios à nossa disposição. A questão não é se os antecedentes, agravos e ressentimentos que condicionam atos terroristas são verdadeiros ou não, o importante é o projeto político-ideológico que emerge como reação contra injustiças.

Nada disso é suficiente – temos que pensar adiante. E o pensar de que falo não tem absolutamente nada a ver com uma relativização fácil do crime (o mantra do “quem somos nós ocidentais, que cometemos massacres terríveis no terceiro mundo, para condenar atos como estes?”). E tem menos ainda a ver com o medo patológico de tantos esquerdistas liberais ocidentais de sentirem-se culpados de islamofobia. Para estes falsos esquerdistas, qualquer crítica ao Islã é rechaçada como expressão da islamofobia ocidental: Salman Rushdie foi acusado de ter provocado desnecessariamente os muçulmanos, e é portanto responsável (ao menos em parte) pelo fatwa que o condenou à morte etc.

O resultado de tal postura só pode ser esse: o quanto mais os esquerdistas liberais ocidentais mergulham em seu sentimento de culpa, mais são acusados por fundamentalistas muçulmanos de serem hipócritas tentando ocultar seu ódio ao Islã. Esta constelação perfeitamente reproduz o paradoxo do superego: o quanto mais você obedece o que o outro exige de você, mais culpa sentirá. É como se o quanto mais você tolerar o Islã, tanto mais forte será sua pressão em você…

É por isso que também me parecem insuficientes os pedidos de moderação que surgiram na linha da alegação de Simon Jenkins (no The Guardian de 7 de janeiro) de que nossa tarefa seria a de “não exagerar a reação, não sobre-publicizar o impacto do acontecimento. É tratar cada evento como um acidente passageiro do horror” – o atentado ao Charlie Hebdo não foi um mero “acidente passageiro do horror”. Ele seguiu uma agenda religiosa e política precisa e foi como tal claramente parte de um padrão muito mais amplo. É claro que não devemos nos exaltar – se por isso compreendermos não sucumbir à islamofobia cega – mas devemos implacavelmente analisar este padrão.

O que é muito mais necessário que a demonização dos terroristas como fanáticos suicidas heroicos é um desmascaramento desse mito demoníaco. Muito tempo atrás, Friedrich Nietzsche percebeu como a civilização ocidental estava se movendo na direção do “último homem”, uma criatura apática com nenhuma grande paixão ou comprometimento. Incapaz de sonhar, cansado da vida, ele não assume nenhum risco, buscando apenas o conforto e a segurança, uma expressão de tolerância com os outros: “Um pouquinho de veneno de tempos em tempos: que garante sonhos agradáveis. E muito veneno no final, para uma morte agradável. Eles têm seus pequenos prazeres de dia, e seus pequenos prazeres de noite, mas têm um zelo pela saúde. ‘Descobrimos a felicidade,’ dizem os últimos homens, e piscam.”

Pode efetivamente parecer que a cisão entre o Primeiro Mundo permissivo e a reação fundamentalista a ele passa mais ou menos nas linhas da oposição entre levar uma longa e gratificante vida cheia de riquezas materiais e culturais, e dedicar sua vida a alguma Causa transcendente. Não é esse o antagonismo entre o que Nietzsche denominava niilismo “passivo” e “ativo”? Nós no ocidente somos os “últimos homens” nietzschianos, imersos em prazeres cotidianos banais, enquanto os radicais muçulmanos estão prontos a arriscar tudo, comprometidos com a luta até sua própria autodestruição. O poema “The Second Comming” [O segundo advento], de William Butler Yeats parece perfeitamente resumir nosso predicamento atual: “Os melhores carecem de toda convicção, enquanto os piores são cheios de intensidade apaixonada”. Esta é uma excelente descrição da atual cisão entre liberais anêmicos e fundamentalistas apaixonados. “Os melhores” não são mais capazes de se empenhar inteiramente, enquanto “os piores” se empenham em fanatismo racista, religioso e machista.

No entanto, será que os terroristas fundamentalistas realmente se encaixam nessa descrição? O que obviamente lhes carece é um elemento que é fácil identificar em todos os autênticos fundamentalistas, dos budistas tibetanos aos amistas nos EUA: a ausência de ressentimento e inveja, a profunda indiferença perante o modo de vida dos não-crentes. Se os ditos fundamentalistas de hoje realmente acreditam que encontraram seu caminho à Verdade, por que deveriam se sentir ameaçados por não-crentes, por que deveriam invejá-los? Quando um budista encontra um hedonista ocidental, ele dificilmente o condena. Ele só benevolentemente nota que a busca do hedonista pela felicidade é auto-derrotante. Em contraste com os verdadeiros fundamentalistas, os pseudo-fundamentalistas terroristas são profundamente incomodados, intrigados, fascinados pela vida pecaminosa dos não-crentes. Tem-se a sensação de que, ao lutar contra o outro pecador, eles estão lutando contra sua própria tentação.

É aqui que o diagnóstico de Yeats escapa ao atual predicamento: a intensidade apaixonada dos terroristas evidencia uma falta de verdadeira convicção. O quão frágil não tem de ser a crença de um muçulmano para que ele se sinta ameaçado por uma caricatura besta em um semanário satírico? O terror islâmico fundamentalista não é fundado na convicção dos terroristas de sua superioridade e em seu desejo de salvaguardar sua identidade cultural-religiosa diante da investida da civilização global consumista.

O problema com fundamentalistas não é que consideramos eles inferiores a nós, mas sim que eles próprios secretamente se consideram inferiores. É por isso que nossas reafirmações politicamente corretas condescendentes de que não sentimos superioridade alguma perante a eles só os fazem mais furiosos, alimentando seu ressentimento. O problema não é a diferença cultural (seu empenho em preservar sua identidade), mas o fato inverso de que os fundamentalistas já são como nós, que eles secretamente já internalizaram nossas normas e se medem a partir delas. Paradoxalmente, o que os fundamentalistas verdadeiramente carecem é precisamente uma dose daquela convicção verdadeiramente “racista” de sua própria superioridade.

As recentes vicissitudes do fundamentalismo muçulmano confirmam o velho insight benjaminiano de que “toda ascensão do fascismo evidencia uma revolução fracassada”: a ascensão do fascismo é a falência da esquerda, mas simultaneamente uma prova de que havia potencial revolucionário, descontentamento, que a esquerda não foi capaz de mobilizar.

E o mesmo não vale para o dito “islamo-fascismo” de hoje? A ascensão do islamismo radical não é exatamente correlativa à desaparição da esquerda secular nos países muçulmanos? Quando, lá na primavera de 2009, o Taliban tomou o vale do Swat no Paquistão, o New York Times publicou que eles arquitetaram uma “revolta de classe que explora profundas fissuras entre um pequeno grupo de proprietários abastados e seus inquilinos sem terra”. Se, no entanto, ao “tirar vantagem” da condição dos camponeses, o Taliban está “chamando atenção para os riscos ao Paquistão, que permanece em grande parte feudal”, o que garante que os democratas liberais no Paquistão, bem como os EUA,  também não “tirem vantagem” dessa condição e procurem ajudar os camponeses sem terra? A triste implicação deste fato é que as forças feudais no Paquistão são os “aliados naturais” da democracia liberal…

Mas como ficam então os valores fundamentais do liberalismo (liberdade, igualdade, etc.)? O paradoxo é que o próprio liberalismo não é forte o suficiente para salvá-los contra a investida fundamentalista. O fundamentalismo é uma reação – uma reação falsa, mistificadora, é claro – contra uma falha real do liberalismo, e é por isso que ele é repetidamente gerado pelo liberalismo. Deixado à própria sorte, o liberalismo lentamente minará a si próprio – a única coisa que pode salvar seus valores originais é uma esquerda renovada. Para que esse legado fundamental sobreviva, o liberalismo precisa da ajuda fraterna da esquerda radical. Essa é a única forma de derrotar o fundamentalismo, varrer o chão sob seus pés.

Pensar os assassinatos de Paris significa abrir mão da auto-satisfação presunçosa de um liberal permissivo e aceitar que o conflito entre a permissividade liberal e o fundamentalismo é essencialmente um falso conflito – um círculo vicioso de dois polos gerando e pressupondo um ao outro. O que Max Horkheimer havia dito sobre o fascismo e o capitalismo já nos anos 1930 – que aqueles que não estiverem dispostos a falar criticamente sobre o capitalismo devem se calar sobre o fascismo – deve ser aplicada também ao fundamentalismo de hoje: quem não estiver disposto a falar criticamente sobre a democracia liberal deve também se calar sobre o fundamentalismo religioso.



A tradução é de Artur Renzo. Uma versão encurtada deste artigo foi publicada em inglês no New Statesman em 10 de janeiro de 2015             
 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O governo está numa encruzilhada

Da parte dos movimentos sociais, não há caminhos a escolher, há a missão de organizar permanentemente o povo, e realizar luta social


Editorial da edição 619 do jornal Brasil de Fato 


O governo Dilma está numa encruzilhada. E o caminho que escolher vai definir não apenas os quatro anos de seu mandato, mas também antecipará os resultados de 2018.
A classe dominante brasileira e a direita saíram das eleições com mais força política e social. Não só pela vitória apertada da candidatura Dilma no segundo turno, mas por outras situações criadas.
Eles aumentaram o controle sobre Congresso, as dez maiores empresas sozinhas elegeram 70% dos parlamentares. Aumentaram o controle ideológico sobre o poder Judiciário, que age claramente em favor dos seus interesses. Vejam os exemplos patéticos do comportamento do Judiciário, que perderam completamente o que deveria ser uma postura republicana: a ação do ministro Gilmar Mendes de impedir a votação, já perdida por seis votos a um, da Medida que proibiria o financiamento das empresas nas campanhas, ainda em 2014; a diplomação de Paulo Maluf e a tentativa de aumentar seu mandato vitalício do limite de 70 para 75 anos!
Por outro lado, a mídia passou a ser o principal instrumento ideológico da direita, que faz campanha diária, permanente, de sua visão de mundo, iludindo a população, e o pior, continua recebendo milionárias verbas publicitárias do próprio governo que as sustenta.
Na economia continuam impondo sua pauta de manter juros altos, taxa de câmbio inadequada e ganhando dinheiro com o rentismo, em vez de investir na produção.
Essa classe dominante, com seus partidos e ideologias vão tentar impor ao governo todo dia, a adoção de medidas neoliberais que favoreçam ao capital e prejudicam os trabalhadores e o povo.
Se o governo seguir esse caminho de atender as pautas da direita, seria a derrota política "no terceiro turno", em que ganha as eleições mas aplica o receituário do perdedor.
O segundo caminho é seguir o mesmo receituário do neodesenvolvimentismo, aplicados de 2003 para cá, e que na opinião dos movimentos sociais se esgotou. Se esgotou porque não é possível resolver os problemas do povo apenas administrando o orçamento da União. E agora é necessário medidas que, para resolver os problemas, afetam os interesses da classe dominante. Por isso, parte da burguesia e da classe média (médicos, professores universitários, comerciantes etc.) já abandonaram o barco do governo. Ou seja, não há mais espaço para um governo de conciliação de classes. E se o governo optar por esse caminho “do mais do mesmo”, não conseguirá atender as demandas dos trabalhadores e perderá rapidamente sua base social, que a elegeu no segundo turno. Assim, correrá o risco de ter manifestações contra o governo, de parte da direita (que já estão na rua) e de parte dos trabalhadores, se tornando um governo de crise permanente e sem sustentação social.
O terceiro caminho é escolher o lado da grande maioria da população, dos pobres e dos trabalhadores. E ter a ousadia de fazer um governo que priorize a solução dos problemas do povo e adotar medidas que afetam os interesses da classe dominante. Esse caminho implica num compromisso de estimular a reforma política através da convocação de uma assembleia constituinte, para que o povo passe a limpo o modelo político. Uma reforma nos meios de comunicação que quebre o atual monopólio da Globo, Veja etc.
Uma reforma tributaria que penalize os que ganham mais e não os trabalhadores como agora. A mudança do superávit primário, para que os recursos ora destinados ao pagamento dos juros aos bancos (cerca de R$ 200 bi ao ano) sejam redirecionados para aplicação em educação, saúde e infraestrutura social nas grandes cidades. Retomada da reforma agrária que foi abandonada nos últimos quatro anos, e um amplo programa de moradia popular e de universalização do acesso dos jovens à universidade.
Seria o caminho em que o governo atende os clamores dos que a elegeram, na esperança de mais mudanças, como foi prometido. Mudanças caracterizadas por reformas estruturais que mudem a vida do povo.
O governo tem os próximos meses para demonstrar qual dos três caminhos escolheu.
Da parte dos movimentos sociais, não há caminhos a escolher, há a missão de organizar permanentemente o povo, e realizar luta social, para que através da pressão, das mobilizações se consiga avançar nas conquistas da solução dos problemas do povo.

2015: fim da CLT e da Petrobras

por Vito Giannotti



ESTA É A MANCHETE que a direita gostaria de estampar em jornais, revistas, novelas, fantásticos e programas de datenas. Este é o sonho de todos os donos de rádios e TV's e dos jornalões e revistas do País. Aliás, isso foi dito pelo chefão da direita quando tomou posse em 1995, após derrotar Lula. FHC, no dia de sua posse, disse sem engasgar: "Temos de enterrar a era Vargas". O que queria dizer? Temos que aplicar todas as normas do FMI, resumidas no Congresso de Washington. E as duas principais leis deste neoliberalismo eram e continuam sendo:

Privatização de todas as empresas e serviços estatais.

Acabar com as leis trabalhistas para reduzir os custos e aumentar os lucros das empresas. Claro que isso não dito de forma escancarada. Foi tudo disfarçado. Privatizações eram justificadas com o papo de que o Estado é ineficiente. E a CLT era boa, mas precisava ser "flexibilizada".

Hoje o sonho é retomado- desde 1995 até hoje, a conversa é a mesma. Durante estes 20 anos, toda a mídia, encabeçada por Globo, Estadão, Folha e Veja, Istoé, Época e todos os canais de rádio e tv do país foram invadidos por uma enxurrada de notícias dirigidas a um único objetivo. Nós de esquerda tivemos respostas fracas e insuficientes. Não penetraram no povo. E agora chegamos a 2015. A direita, fortalecida no parlamento e na sociedade como um todo, parte para o ataque.

O primeiro objetivo é baixar os custos da mão de obra. Está lutando para aprovar qualquer medida que permita esquecer a CLT. A medida do momento é aprovar a terceirização  de todos os serviços das empresas. Com isso, os empresários ficarão à vontade para impor suas leis livremente.. O segundo objetivo deste ano é desgastar e desmoralizar ao máximo a Petrobras e com isso tirar o apoio e a simpatia popular desta empresa genuinamente brasileira. Daí partir para o plano de mais de meio século, privatizá-la.

Então,o sonho de FHC, de 1995, " enterrar a era Vargas" se concretizará. A menos que a esquerda acorde a tempo e parta para o contra ataque.  

YOANI SÁNCHEZ PERDERÁ A BOQUINHA?


por Altamiro  Borges 



A blogueira Yoani Sánchez, tão bajulada pela mídia colonizada, ficou triste com a reestabelecimento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba e com a libertação dos três “heróis cubanos” – Gerardo Hernandez, Ramón Labaniño e Antonio Guerrero. Enquanto o mundo inteiro saudava a “decisão histórica” e milhares ocupavam as ruas de Havana para festejar, ela lamentou: “O castrismo venceu… No jogo da política, os totalitarismos sempre conseguem se impor sobre as democracias”. A tristeza da mercenária é compreensível. Talvez agora ela tenha mais dificuldades para garantir os subsídios das potencias capitalistas e os holofotes da imprensa mundial para a sua causa “dissidente”.


Em fevereiro do ano passado, Yoani Sánchez visitou o Brasil e foi paparicada pelos “democratas” do DEM, do PSDB e até por alguns “ingênuos” da esquerda. A mídia colonizada fez o maior alarde para recepcionar a “bolgueira independente que enfrenta a tirania comunista”. A justicativa da sua visita foi o lançamento do filme “Conexões Cuba-Honduras”, do documentarista Dado Galvão – um ativo colaborador do Instituto Millenium, o antro da direita que reúne os barões da mídia nativa. Coube à combativa militância da União da Juventude Socialista (UJS) realizar vários atos contra a mercenária cubana, ajudando a desmascarar sua posição direitista de pró-imperialista.


A frustação de Yoani Sánchez com o reestabelecimento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba – “o castrismo venceu” – confirma as denúncias feitas pela UJS. A “blogueira” nunca teve nada de “jornalista independente”. Seus vínculos com o governo dos EUA, que mantém um “escritório de interesses” em Havana (Sina), são amplamente conhecidos. O Wikileaks já vazou 11 documentos da diplomacia ianque que registram as reuniões da “dissidente” com os “agentes” da Sina desde 2008.


Num deles, datado de 9 de abril de 2009, o chefe da Sina, Jonathan Farrar, escreveu ao Departamento de Estado: “Pensamos que a jovem geração de dissidentes não tradicionais, como Yoani Sánchez, pode desempenhar papel a longo prazo em Cuba pós-Castro”. Ele ainda aconselhava o governo dos EUA a aumentar os subsídios financeiros à blogueira “independente”. Anualmente, o Departamento de Estado destina cerca de 20 milhões de dólares para incentivar a subversão contra o governo cubano. Nos últimos anos, boa parte deste “subsídio” é usada para apoiar “líderes” nas redes sociais.


A própria blogueira confessou que recebe ajuda. “Os EUA desejam uma mudança em Cuba, é o que eu desejo também”, tentou justificar numa entrevista ao jornalista francês Salim Lamrani. Neste sentido, não dá para afirmar que Yoani Sánchez padece de enormes dificuldades na ilha – outra mentira difundida pela mídia colonizada. Pelo contrário, ela é uma privilegiada num país com tantas dificuldades econômicas. Além do subsídio do império, a blogueira também recebe fortunas de prêmios internacionais que lhe são concedidos por entidades internacionais declaradamente anticubanas. Nos últimos três anos, ela foi agraciada com US$ 200 mil dólares de instituições do exterior.


Na maioria, os prêmios são concedidos com a justificativa de que Yoani é uma das blogueiras mais famosas do planeta, com milhões de acesso, e uma “intelectual” de prestígio. Outra bravata divulgada pela mídia colonizada. Uma rápida pesquisa no Alexa, que ranqueia a internet no mundo, confirma que seu blog não é tão influente assim, apesar da sua farta publicidade na mídia e dos enormes recursos técnicos de que dispõe – inclusive com a estranha tradução “voluntária” para 21 idiomas.


Quanto ao título de “intelectual” e principal dissidente de Cuba, a própria Sina realizou pesquisa que desmonta a tese usada para projetar a blogueira. Ela constatou que o opositor mais conhecido na ilha é o sanguinário terrorista Pousada Carriles. Yoani só é citada por 2% dos entrevistados – ela é uma desconhecida, uma falsa líder, abanada com propósitos sinistros. A “ilustre” blogueira, inclusive, é motivo de chacota pelas besteiras que publica e declara em entrevistas à mídia estrangeira. Vale citar algumas que já compõem o “ciberbestiário” de Yoani Sánchez:


- [Sobre a Lei de Ajuste Cubano, imposta pelos EUA para desestabilizar a economia cubana, ela afirmou que não prejudica o povo] porque nossas relações são fortes. Se joga o beisebol em Cuba como nos Estados Unidos;


- Privatizar, não gosto do termo porque tem uma conotação pejorativa, mas colocar em mãos privadas, sim.


- Não diria que [os chefões da máfia anticubana de Miami, sic] são inimigos da pátria;


- Estas pessoas que são favoráveis às sanções econômicas [dos EUA contra Cuba] não são anticubanas. Penso que defendem Cuba segundo seus próprios critérios;


- [A luta pela libertação dos cinco presos nos Estados Unidos] não é um tema que interessa à população. É propaganda política;


- [A ação terrorista de Posada Carriles contra Cuba] é um tema político que as pessoas não estão interessadas. É uma cortina de fumaça;


- [Mas os EUA já invadiram Cuba, pergunta o jornalista] Quando?;


- O regime [de Fulgencio Batista, que assassinou 20 mil cubanos] era uma ditadura, mas havia liberdade de imprensa plural e aberta;


- Cuba é uma ilha sui generis. Podemos criar um capitalismo sui generis.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Judiciário pode obrigar PM a seguir protocolo de uso de força em atos

 por Marcelo Pellegrini



Entidade Artigo 19 protocolou no TJ-SP um parecer jurídico pedindo o julgamento da ação civil pública que pede para Polícia Militar elaborar um protocolo de ação que garanta direito de manifestação.



A Polícia Militar (PM) afirmou na quarta-feira 7 que fará uso da técnica do "envelopamento" durante a manifestação contra o aumento da passagem no transporte público de São Paulo, marcada para esta sexta-feira 9. A técnica consiste em isolar os manifestantes por meio de um cordão policial. Além disso, o uso de balas de borracha também "será autorizado caso necessário", disse o major Larry de Almeida Saraiva.

O anúncio das técnicas da operação comandada por Saraiva ocorreu no mesmo dia em que a entidade Artigo 19, que luta pela liberdade de expressão, protocolou no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) um parecer jurídico (amicus curiae) em favor de um maior controle das ações da PM em manifestações. O parecer em questão solicita o julgamento da ação civil pública que pede para a Polícia Militar elaborar um protocolo do uso da força para garantir proteção ao direito de manifestação em protestos de rua.

A ação é antiga e incomoda por prever a responsabilização do Governo do Estado pelas violações cometidas contra manifestantes ao longo dos protestos nos últimos anos. Ao todo, a ação prevê uma indenização de 8 milhões de reais pelas violações dos direitos dos manifestantes.

Proposta em abril de 2014 pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, a iniciativa visa tornar-se um instrumento legal específico para coibir os abusos da Polícia Militar em protestos. Atualmente, a Polícia Militar paulista não possui nenhum protocolo que esteja de acordo com a Constituição Federal e os demais tratados internacionais que protegem a livre manifestação.
“Tem sido cada vez mais recorrente a prática de medidas ilegais pelo Estado para impedir que as manifestações sequer saiam do lugar. Para prevenir abusos policiais e o cerceamento da liberdade de manifestação nos protestos, faz-se necessário a elaboração de um protocolo que respeite os direitos humanos e que garanta que o uso da força somente possa ser empregado quando necessário e de forma proporcional para garantir que a manifestação continue ocorrendo de forma segura para todos", afirma Camila Marques, advogada da Artigo 19. "A função da polícia é apenas a de coibir abusos, não a de acabar com as manifestações."

A medida também é uma resposta às violações cometidas por forças policiais e agentes do Estado durante os protestos de 2013 em todo o País. Nos 696 protestos analisados pela Artigo 19, ao menos 837 pessoas foram feridas e 2.608 pessoas detidas, de acordo com o relatório "Protestos Brasil 2013". O levantamento também apontou que 117 jornalistas e comunicadores foram agredidos e/ou feridos e ao menos 10 foram detidos.

“Tal situação se deve, sobretudo, à ausência de protocolos de atuação da Polícia Militar do Estado de São Paulo que respeitem os direitos humanos e os direitos fundamentais constitucionalmente garantidos durante as manifestações”, diz o documento apresentado ao TJ-SP. “Enquanto tais pedidos não forem acolhidos por este juízo e devidamente implementados pelo Estado de São Paulo, as violações apuradas pela ARTIGO 19 durante os protestos no ano de 2013 continuarão ocorrendo, aumentando os preocupantes números aqui apresentados”, prossegue o documento.

Uma liminar favorável foi expedida no dia 3 de novembro de 2014 pelo juiz José Gomes Jardim Neto, que determinou um prazo de 30 dias para a PM apresentar um protocolo de ação. No entanto, apenas 72 horas depois, o desembargador Ronaldo Andrade da 3.ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou a liminar.

Desde então, a ação civil pública não tem prazo para ser julgada.

Meias verdades, grandes mentiras

por Matheus Pichonelli




Diariamente crimes são cometidos em nome de nossos totens e tabus. Mas é mais fácil acreditar que só os muçulmanos levam a cabo o próprio fanatismo.




"Esses caras são tudo louco. Não pode provocar". "Ninguém é obrigado a respeitar a cultura deles. Eles que se mudem". "Se depois desses atos as pessoas continuam defendendo o Islã, é porque compactuam com os crimes". "Toda mesquita deveria ser apedrejada". "Não adianta agora os líderes pedirem perdão: eles criaram os monstros".

Repare no teor das frases acima, retiradas de conversas informais e manifestações em redes sociais após o ataque à sede do jornal Charlie Hebdo, em Paris, que deixou 12 mortos, entre eles o editor-chefe do semanário e três de seus principais ilustradores. O teor das frases não deixa dúvidas sobre os motivos de o mundo ter se transformado em uma grande área de risco: a religião. Não qualquer religião, mas o islã.

Agora pegue todas as sentenças do primeiro parágrafo e troque pelas palavras “cristãos”, “papa”, “igreja”. Troque o atentado de quarta-feira pelos crimes de abusos sexuais ocorridos dentro da Igreja Católica – casos que levaram muitas de suas vítimas, a maioria crianças, ao suicídio. Pela lógica das manifestações ao longo da semana, todos os cristãos, do coroinha ao papa Francisco, são potenciais criminosos. Afinal, todos ouviram falar dos crimes praticados pelos clérigos católicos e ainda assim continuam a frequentar a missa e a espalhar seus dogmas. Compactuam, assim, com os mesmos crimes, e merecem ter suas sedes apedrejadas – ainda que o papa tenha pedido perdão publicamente, no último dia 7 de junho, pelos atos que “profanam a imagem de Deus”.

De duas, uma: ou nenhum destes argumentos faz o menor sentido ou passaremos a aceitar que pertencer a uma religião, qualquer que seja, é pertencer a um grupo de risco, deliberadamente passível a fanatismos movidos a lavagens cerebrais. Prefiro a primeira opção por um motivo simples. Quando um marido mata uma mulher por ciúmes, ninguém sai às ruas contra a instituição do casamento. Quando um bêbado atropela um pedestre, ninguém destrói a sede da General Motors ou da Ambev. Quando um posseiro define uma propriedade pela bala, ninguém sai por aí arrebentando cercas.

A tragédia de 7 de janeiro despertou em uma multidão o mesmo espírito que ela julga combater: a irracionalidade. Quando esta é praticada pelo outro, é fundamento; quando ocorre dentro das estruturas das quais fazem parte, é desvio, notadamente manifestado por problemas mentais.

Sim: o que aconteceu na sede do semanário francês é um absurdo, que coroa um período sombrio de entendimentos truncados, ofensas gratuitas, xenofobia e violência. As investigações ainda são inconclusas, mas tudo leva a crer que os crimes tenham sido motivados pela suposta ousadia dos cartunistas em retratar Maomé. Sim: há lunáticos no mundo capazes de combater a chacota da tinta com a ponta de uma Kalashnikov. Há lunáticos que colocam símbolos sagrados acima das vidas humanas que os profanaram. Uns são religiosos, outros não. Ou seria outra a motivação do marido que estrangula a mulher quando sua “honra” é profanada? Ou de posseiros que promovem emboscadas motivadas por conflitos por terra? Ou do sujeito que mata uma desconhecida após um bate-boca no estacionamento da festa (foi em Santo André, e não no Iraque, RELEMBRE AQUI)?

Em todos os casos a vida valia menos do que o acerto de contas - e pelo mundo não faltam exemplos de mortes por motivos torpes. Todos, de alguma forma, tiveram seus símbolos sagrados para defender. Passaram a vida toda dizendo serem capazes de matar quem invadisse suas propriedades, mexesse com suas mulheres, batesse em seus veículos. Alguns levam a cabo a promessa – para depois argumentar, diante do juiz, que perderam a cabeça.

O casamento, a propriedade e nossas posses não são o problema em si, mas sim a forma como as relações de poder são criadas a partir deles. Isso, desgraçadamente, ocorre também no interior das religiões, seja quando um clérigo usa a suposta interlocução com o divino para convencer a criança a agradá-lo, seja quando um seguidor deturpa o livro sagrado para referendar sua vingança.

Diariamente crimes são cometidos em defesa de nossos totens e tabus. Mas é mais fácil acreditar que somente os muçulmanos, esses seres estranhos que vivem do outro lado do mundo, são capazes de levar a cabo seu próprio fanatismo. A sensação enganosa nos poupa de imaginar que, no limite, somos também capazes de cometer arbítrios contra quem profana nossas honras e objetos sacros.
por Carlos Drummond de Andrade


A Flor e a Náusea


Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Uma flor nasceu na rua!
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
E soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Uma imagem da capital do Espírito Santo clicada por Yuri Barichivich

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

"Dunas do Principado ao Livre de Itaúnas (Conceição da Barra- ES), o quinto dia deste ano de 2015...Do outro lado (Leste), o nascer da lua!"

por Vitor Nogueira






AL: Pesquisa revela que Defensoria Pública é a instituição mais bem avaliada no funcionamento da Justiça


Estudo também revela que a Defensoria é a segunda instituição de maior credibilidade da população e considerada a segunda de maior importância para a sociedade

 
O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) divulgou, no início de dezembro, os números de uma pesquisa realizada para checar a visão dos brasileiros sobre as instituições que integram o sistema de Justiça. Entre os resultados do estudo estão que a Defensoria Pública é a instituição mais bem avaliada para o adequado funcionamento da Justiça.

A pesquisa também revelou que a Defensoria Pública é considerada a segunda instituição mais importante para a sociedade, atrás apenas da Polícia, bem como a segunda instituição com maior índice de confiança da população, seguindo de perto o Ministério Público.

O diagnóstico foi aplicado pela Praxian Business & Marketing Specialists em 348 municípios nas cinco Regiões do Brasil, entre os dias 27 de setembro e 22 de novembro de 2014. Foram ouvidos quase 6 mil entrevistados em todo país.

Aproximadamente 90% dos entrevistados disseram que a Defensoria Pública é muito importante para a sociedade e quase 60% das pessoas pesquisadas atribuíram índice "ótimo" e "bom" para o nível de confiança na instituição. Com relação à avaliação das instituições para o bom funcionamento da Justiça, a Defensoria Pública liderou a pesquisa, recebendo conceito "ótimo/bom" por 40% dos entrevistados, sendo seguida pelas Forças Armadas, Poder Judiciário e Ministério Público.



Fonte: Ascom/DPEAL
Estado: AL
 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Feliz Ano Novo! O Brasil não é feito só de ladrões

Por Mauro Santayana



Não são poucos os países e lideranças externas que torcem para que nossa nação sucumba, e se entregue a países que sempre nos exploraram.




Inaugura-se, nesta quinta-feira, novo ano no Calendário Gregoriano, o de número 2015 após o nascimento de Jesus Cristo, 515, depois do Descobrimento, 193, da Independência, e 125, da Proclamação da República.
Tais referências cronológicas ajudam a lembrar que nem o mundo, nem o Brasil, foram feitos em um dia, e que estamos aqui como parte de longo processo histórico que flui em velocidade e forma muitíssimo diferentes daquelas que podem ser apreendidas e entendidas, no plano individual, pela maioria dos cidadãos brasileiros.
Ao longo de todo esse tempo, e mesmo antes do nascimento de Cristo, já existíamos, lutávamos, travávamos batalhas, construíamos barcos e pirâmides, cidades e templos, nações e impérios, observávamos as estrelas, o cair da chuva, o movimento do Sol e da Lua sobre nossas cabeças, e o crescimento das plantas e dos animais.
Em que ponto estamos de nossa História?

Nesta passagem de ano, somos 200 milhões de brasileiros, que, em sua imensa maioria, trabalham, estudam, plantam,  criam, empreendem, realizam, todos os dias.
Nos últimos anos, voltamos a construir navios, hidrelétricas, refinarias, aeroportos, ferrovias, portos, rodovias, hidrovias, e a fazer coisas que nunca fizemos antes, como submarinos - até mesmo atômicos - ou trens de levitação magnética.
Desde 2002, a safra agrícola duplicou - vai bater novo recorde este ano -  e a produção de automóveis, triplicou.

Há 12 anos, com 500 bilhões de dólares de PIB, devíamos 40 bilhões de dólares ao FMI, tínhamos uma dívida líquida de mais de 50%, e éramos a décima-quarta economia do mundo.

Hoje, com 2 trilhões e 300 bilhões de dólares de PIB, e 370 bilhões de dólares em reservas monetárias,  somos a sétima maior economia do mundo. Com menos de 6% de desemprego, temos uma dívida líquida de 33%, e um salário mínimo, em dólares, mais de três vezes superior ao que tínhamos naquele momento.

De onde vieram essas conquistas?

Do suor, da persistência, do talento e da criatividade de milhões de brasileiros. E, sobretudo, da confiança que temos em nós mesmos, no nosso trabalho e determinação, e no nosso país.

Não podemos nos iludir.

Não estamos sozinhos neste mundo. Competimos com outras grandes nações, que conosco dividem as 10 primeiras posições da economia mundial, por recursos, mercados, influência política e econômica, em escala global.

Não são poucos os países e lideranças externas, que torcem para que nossa nação sucumba, esmoreça, perca o rumo e a confiança, e se entregue, totalmente, a países e regiões do mundo que sempre nos exploraram no passado - e ainda continuam a fazê-lo -  e que adorariam ver diminuída a projeção do Brasil sobre áreas em que temos forte influência geopolítica, como a África e a América Latina.  

Nosso espaço neste planeta, nosso lugar na História, foi conquistado com suor e sangue, por antepassados conhecidos e anônimos, entre outras muitas batalhas, nas lutas coloniais contra portugueses, holandeses, espanhóis e franceses; na Inconfidência Mineira, e nas revoltas que a precederam como a dos Beckman e a de Filipe dos Santos; nas Conjurações Baiana e Carioca, na Revolução Pernambucana; na Revolta dos Malês e no Quilombo de Palmares; na Guerra de Independência até a expulsão das tropas lusitanas; nas Entradas e Bandeiras, com a Conquista do Oeste, da qual tomaram parte também Rondon, Getúlio e Juscelino Kubitscheck; na luta pela Liberdade e a Democracia nos campos de batalha da Europa, na Segunda Guerra Mundial.

As passagens de um ano para outro, deveriam servir para isso: refletir sobre o que somos, e reverenciar patriotas do passado e do presente.

Brasileiros como os que estão trabalhando, neste momento, na selva amazônica, construindo algumas das maiores hidrelétricas do mundo, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio; como os que vão passar o réveillon em clareiras no meio da floresta, longe de suas famílias, instalando torres de linhas de alta tensão de transmissão de eletricidade de centenas de quilômetros de extensão; ou os que estão trabalhando, a dezenas de metros de altura, em nossas praias e montanhas, montando ou dando manutenção em geradores eólicos; ou os que estão construindo gigantescas plataformas de  petróleo com capacidade de exploração de 120.000 barris por dia, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, como as 9 que foram instaladas este ano; ou os que estão construindo novas refinarias e complexos petroquímicos, como a RENEST e o COMPERJ, em Pernambuco e no Rio de Janeiro; ou os que estão trabalhando na ampliação e reforma de portos, como os de Fortaleza, Natal, Salvador, Santos, Recife, ou no término da construção do Superporto do Açu, no Rio de Janeiro; ou os técnicos, oficiais e engenheiros da iniciativa privada e da Marinha que trabalham em estaleiros, siderúrgicas e fundições, para construir nossos novos submarinos convencionais e atômicos, em Itaguaí; os técnicos da AEB - Agência Espacial Brasileira, e do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que acabam de lançar, com colegas chineses, o satélite CBERS-4, com 50% de conteúdo totalmente nacional; os que trabalham nas bases de lançamento espacial de Alcântara e Barreira do Inferno; os oficiais e técnicos da Aeronáutica e da Embraer, que se empenham para que o primeiro teste de voo do cargueiro militar KC-390, o maior avião já construído no Brasil, se dê com sucesso e dentro dos prazos, até o início de 2015; os operários da linha de montagem dos novos blindados do Exército, da família  Guarani, em Sete Lagoas, Minas Gerais, e os engenheiros do exército que os desenvolveram; os que trabalham na linha de montagem dos novos helicópteros das Forças Armadas, na Helibras, e os oficiais, técnicos e operários da IMBEL, que estão montando nossos novos fuzis de assalto, da família IA-2, em Itajubá; os que produzem novos cultivares de cana, feijão, soja e outros alimentos, nos diferentes laboratórios da EMBRAPA; os que estão produzindo navios com o comprimento de mais de dois campos de futebol, e a altura da Torre de Pisa, como o João Cândido, o Dragão do Mar, o Celso Furtado, o Henrique Dias, o Quilombo de Palmares, o José Alencar, em Pernambuco e no Rio de Janeiro; os que estão construindo navios-patrulha para a Marinha do Brasil e para marinhas estrangeiras como a da Namíbia, no Ceará; os engenheiros que desenvolvem mísseis de cruzeiro e o Sistema Astros 2020 na AVIBRAS; os que estão na Suécia, trabalhando, junto à Força Aérea daquele país e da SAAB, no desenvolvimento do futuro caça supersônico da FAB, o Gripen NG BR, e na África do Sul, nas instalações da DENEL, e também no Brasil, na Avibras, na Mectron, e na Opto Eletrônica, no projeto do míssil ar-ar A-Darter, que irá equipá-los; os nossos soldados, marinheiros e aviadores, que estão na selva, na caatinga, no mar territorial, ou voando sobre nossas fronteiras, cumprindo o seu papel de defender o país, que precisam dessas novas armas;  os pesquisadores brasileiros das nossas universidades, institutos tecnológicos e empresas privadas, como os que trabalham ITA e no IME, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, ou no projeto de construção e instalação do nosso novo Acelerador Nacional de Partículas, no Projeto Sirius, em São Paulo;   os técnicos e engenheiros da COPPE, que trabalham com a construção do ônibus brasileiro a hidrogênio, com tubinas projetadas para aproveitar as ondas do mar na geração de energia, com a construção da primeira linha nacional de trem a levitação magnética, com o MAGLEV COBRA; nossos estudantes e professores da área de robótica, do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, várias vezes campeões da Robogames, nos Estados Unidos.   

Neste momento, é preciso homenagear  esses milhões de compatriotas, afirmando,  mostrando e lembrando - e eles sabem e sentem profundamente isso - que o Brasil é muito, mas muito, muitíssimo maior que a corrupção.

É esse sentimento, que eles têm e dividem entre si e suas famílias, que  faz com que saíam para trabalhar, com garra e determinação, todos os dias, cheios de  orgulho pelo que fazem e pelo nosso país.

E é por causa dessa certeza, que esses brasileiros estão se unindo e vão se mobilizar, ainda mais, em 2015, para proteger e defender as obras, os projetos e programas em que estão trabalhando, lutando, no Congresso, na Justiça, e junto à opinião pública, para que eles não sejam descontinuados,  destruídos, interrompidos, colocando em risco seus empregos, sua carreira, e a sobrevivência de suas famílias.

Eles não têm tempo para ficar teclando na internet, mas sabem que não são bandidos, que não cometeram nenhum crime e que não merecem ser punidos, direta ou indiretamente, por atos  dos quais não participaram, assim como a Nação não pode ser punida pelos mesmos motivos.

Eles têm a mais absoluta certeza de que a verdadeira face do Brasil pode ser vista nesses projetos e empresas - e no trabalho de cada um deles - e não na corrupção, que se perpetua há anos, praticada por uma ínfima e sedenta minoria. E intuem que, às vezes, na História, a Pátria consegue estabelecer seus próprios objetivos, e estes conseguem se sobrepor aos interesses de grupos e segmentos daquele momento, estejam estes na oposição ou no governo.