por Paulo Nogueira
Dilma tem sido criticada por muita coisa.
A crítica mais pertinente talvez seja a de que falta a ela vocação para fazer política: paciência para ouvir, para conversar e negociar.
Por tudo isso, ela se distanciou dos movimentos sociais que poderiam ter mitigado o desgaste de sua imagem.
E também por isso não soube conduzir uma adequadamente uma aliança tão delicada como a sua com o PMDB.
Era evidente seu desprezo pelos peemedebistas.
Mas, isto tudo considerado, uma coisa é preciso reconhecer: Dilma soube escolher ministros do STF com muito mais acerto do que Lula, com quem ela deveria ter aprendido a arte da política.
A competência na escolha salvou seu mandato.
Um juiz é particularmente admirável: Teori Zavascki.
Ele é o oposto de fanfarrões como Gilmar Mendes, um parnasiano reacionário estranhamente apaixonado pela própria voz.
Teori, como se espera de juízes, fala pelos autos.
Você não o vê ciscando de jornais em jornais, fazendo antes política que Justiça, como ficou tão comum nestes tempos.
Você também não consegue imaginá-lo recebendo, deslumbrado, um prêmio das mãos de João Roberto Marinho, da Globo, como aconteceu com Joaquim Barbosa e Sérgio Moro.
Sua vida pessoal é quase que inteiramente desconhecida. Sabe-se que é um torcedor fanático do Grêmio, que tem 67 anos, que sua falecida mulher atuava também na Justiça bem como dois de seus três filhos – e vamos parando por aí.
E no entanto esse homem de perfil tão baixo protagonizou ontem um momento de extraordinária importância na cena política brasileira.
Teori desarmou a manobra golpista e indecente com a qual Eduardo Cunha e aliados como Aécio queriam cassar 54 milhões de votos numa aliança macabra antipovo.
Os golpistas não contavam com a honestidade e a competência de Teori. Graças a ele os golpistas terão agora que colher 2/3 das assinaturas na Câmara para dar início ao processo de impeachment.
Isso, virtualmente, sepulta o golpe sujo.
Eduardo Cunha provavelmente estará onde merece estar – na cadeia – antes que os golpistas arquitetem um novo truque.
Os brasileiros devem a Teori esta defesa superior da democracia, sob ataque da plutocracia simbolizada em Cunha e Aécio.
E foi Dilma quem o colocou lá.
Veja, em oposição, as escolhas de Lula. A mais desastrada delas foi a de Joaquim Barbosa, que se deixou enfeitiçar pelas lantejoulas da celebridade no Mensalão.
Lula cometeu um erro essencial ao designar membros para o STF: o republicanismo em dose suicida.
Um de seus indicados, Eros Grau, tinha uma conhecida militância no PSDB, algo reconhecido singelamente por ele mesmo.
Nas últimas eleições, Eros se bateu publicamente por Aécio.
Muito mais pragmático, FHC colocou no STF gente como Gilmar, para fazer da mais alta corte do país uma extensão togada e bolivariana dos interesses tucanos.
Dilma, tão criticada em tantas coisas na administração, deu novos ares ao STF de circo que herdou.
Não é só Teori: também Barroso vem se mostrando um juiz sereno, equilibrado e confiável. E Edson Fachin chega com elevadas expectativas.
Verdade é que no meio do caminho houve Fux, mas entra na cota de erros humanos.
Dilma, no geral, foi extremamente hábil com o STF.
E, repito, deve a isso seu mandato.
Foto: Nelson Jr
Nenhum comentário:
Postar um comentário